Simone Tinti
.jpg)
Theo é um garoto do Rio de Janeiro que se muda, com a família, para Ouro Preto, cidade do interior de Minas Gerais. Lá, ele passa a comer o que sua avó prepara no fogão à lenha, monta uma casa na árvore (chamada de Jabuticabunker) e passa a documentar, em um diário, suas descobertas diárias – como, por exemplo, que as verduras, frutas e legumes sem agrotóxicos são ainda mais gostosos. Assim, aos poucos, ele descobre que dá para viver de um jeito bem diferente. Theo é um personagem fictício, mas poderia ter um pouco de cada criança e é personagem principal do livro Manual do Defensor do Planeta, que a editora Casa da Palavra acaba de lançar, voltado principalmente para crianças de 8 anos. Para contar a história de Theo e, assim, mostrar uma nova maneira de cuidar e defender o planeta, os autores João Alegria e Rodrigo Medeiros uniram suas diferentes experiências com o tema. Enquanto João é autor de livros infantis e gerente de programação do canal Futura, Rodrigo é professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro na área de ciências ambientais e já deu consultoria para o programa Globo Ecologia. Em comum, os dois tinham a vontade de dizer o que as crianças têm a ver com a situação atual do mundo e do meio ambiente. E o assunto não é algo presente só na carreira deles: os dois são pais e têm de lidar com isso em casa também. Em entrevista à CRESCER, Rodrigo e João falam mais sobre os desafios deles como pais e sobre conservação da natureza.
CRESCER: Como surgiu a ideia para este livro?
Rodrigo Medeiros: A ideia era fazer algo com mais consistência para as crianças sem ficar com cara desses livros com textos chatos que querem ensinar ou doutrinar. Nossa ambição foi contar uma história vivida por um garoto da cidade que se depara com um mundo diferente que ele jamais poderia imaginar que existisse e que, a partir dessa experiência, nossos pequenos leitores descobrissem pelos olhos do Theo como o mundo em que vivemos é diverso, e como podemos estar mais conectados a ele. Então, é uma história em que o maior aprendizado do Theo vem das descobertas e das experiências vividas por ele, e não de nada ensinado. É isso que estamos estimulando os nossos "defensores do planeta" a experimentar (inclusive os próprios pais!).
CRESCER: O livro trata de conservação da natureza, mas também fala muito das relações do menino com os avós. Esse jeito mais “simples” de viver (como a comida feita no forno à lenha) também seria uma maneira de ser mais sustentável?
João Alegria: Sem dúvida nenhuma. Nosso sentimento é de conservação da diversidade e de mudança de estilo de vida. Quando falamos de diversidade, vai muito além da biológica. Queremos também nos referir à diversidade ética, cultural, institucional e todas as outras que pudermos imaginar. Há uma tendência, pela globalização, de o mundo ficar mais uniformizado, o que é pouco sustentável. Então, é importante também que as pessoas tenham um estilo de vida mais simples e mais equilibrado. Isso não significa que todos tenham de viver “na idade da pedra”. Muito pelo contrário. Tecnologia é bom. Mas é preciso querer ter menos e viver mais.
Rodrigo Medeiros: A sustentabilidade é um conceito que se expressa em diferentes níveis, incluindo o cultural. O mundo tem se modificado em uma velocidade incrivelmente rápida e, muitas vezes, não percebemos essas mudanças, pois somos produto imediato da cultura que nos cerca. Nesse contexto, estar mais próximo das pessoas mais velhas, com mais experiência, como os avós, por exemplo, ou revisitar a história, sem dúvida permite às crianças ver o mundo sob uma perspectiva diferente e ir formando seu julgamento próprio. Há sempre uma tendência a esse "culto à modernidade" e desprezo ao passado. Mas estamos descobrindo e dando cada vez mais valor nesse início de século a práticas consideradas ultrapassadas. Um exemplo é produzir alimentos de maneira mais saudável em hortas, o que é muito melhor e mais sustentável. CRESCER: O que vocês fazem para criar os filhos de um jeito mais sustentável? RM: Tenho uma menina de 4 anos e um garoto “encomendado” para chegar agora em setembro. Confesso que não há uma formula mágica para se tornar um indivíduo sustentável em um mundo movido pelo consumismo pouco qualificado e ainda pouco consciente, sobretudo no Brasil. O que acho fundamental nisso tudo são os pais não caírem na armadilha do patrulhamento ideológico e privarem os filhos de experiências que permitam a eles, no futuro, identificarem e escolherem o que é e o que não é sustentável. As escolhas que fazemos como pais agora irão se refletir nas escolhas que os nossos filhos farão no futuro. Então acho importante deixarmos que eles participem gradativamente das nossas escolhas e decisões rotineiras, como o que comprar no supermercado e o por que: comida fresca ou congelada? Orgânico ou não? Descartável ou reaproveitável?. Assim, no dia a dia, essas escolhas também passarão a ser naturalmente deles. É preciso criar conexões. E o livro fala basicamente como novas conexões (afetivas, sociais e culturais) podem mudar nossa percepção e nossa relação com o mundo.
JA: Eu tenho dois filhos. Uma menina e um menino já mais velhos que os do Rodrigo. Criar os filhos para uma vida de sustentabilidade é um super desafio, principalmente porque eles são muito pressionados pelas tendências do mercado e pelas redes sociais que integram. Como argumentar com o filho que ele não precisa comprar a terceira versão seguida de um game eletrônico porque tanto consumo pode levar a um esgotamento dos recursos naturais? É difícil, mas é necessário. O caminho é começar pelas coisas mais rotineiras. Comer mais vezes em casa e preparar a própria comida, envolver as crianças nas tarefas que exigem recursos naturais como a água, por exemplo: limpeza, higiene pessoal, alimentação etc., e mostrar como é possível ser mais responsável no uso desses recursos. Essas são formas de educar para uma vida sustentável.
CRESCER: Que dicas vocês dariam para os pais na hora de criar os filhos de uma maneira mais “verde” e incentivar o respeito à natureza?
JA e RM: É preciso conhecer e frequentar a natureza. Fazer mais caminhadas ao ar livre, por exemplo. Aprender a ouvir e observar as plantas e os animais, percebendo a grande quantidade de espécies ao nosso redor. Disponibilizar conteúdos culturais que deem uma visão mais interessante da natureza, como revistas, filmes, canais de televisão e videogames que tratem do assunto. Sempre que possível, criar pequenas oportunidades de travar um contato mais direto e responsável, como cultivar um vaso em casa ou uma horta no quintal.
Cuide bem dos seus brinquedos
Muitas crianças também contribuem para o lixo aumentar deixando de cuidar dos seus brinquedos, quebrando-os e os jogando fora pouco tempo depois de os ganharem. Se não quiser mais um brinquedo, proponha uma troca aos amigos.
Ouça as histórias da vovó
Pessoas mais velhas conhecem muitas histórias que nunca foram escritas em nenhum livro. Essas histórias nos mostram como era o mundo antigamente e isso é muito importante para nós. Da próxima vez que se encontrar com seus avós, ou com idosos que moram perto da sua casa, peça para eles contarem uma história de quando eram crianças.
Coma coisas saudáveis
Prefira os alimentos frescos. Beba suco direto da fruta. É muito mais gostoso.
Manual do Defensor do Planeta
Editora Casa da Palavra
Autores: João Alegria e Rodrigo Medeiros
Ilustrações: Beleléu
160 páginas
Nenhum comentário:
Postar um comentário