terça-feira

O que fazer quando a criança tem muito pelo

Quando eles crescem em grande quantidade, ou antes da hora, podem se tornar um problema para a autoestima. Entenda as causas do excesso e saiba contornar suas consequências



É normal ter muitos pelos na infância?
Depende. É importante diferenciar se eles são herança familiar ou se estão localizados em regiões em que podem sinalizar doenças. Quando são relacionados a características raciais, em descendentes de povos como italianos, espanhóis e portugueses, geralmente se concentram em braços e pernas, o que é considerado normal. Merece investigação, porém, o aparecimento de pelos com características sexuais (quando são localizados em áreas como púbis e axila, barba e bigode) em meninas menores de 8 anos e em meninos menores de 9.

Nesse caso, que providências se deve tomar?
O ideal é levar a criança ao pediatra para descartar qualquer possibilidade de alteração, como puberdade precoce, hiperplasia congênita de suprarrenal (um aumento da glândula que acelera a produção de hormônios masculinos), tumores de suprarrenal ou efeito colateral de alguma medicação. Para esses casos, existe tratamento e, quanto antes for feito o diagnóstico, maiores são as chances de sucesso. Para identificar a origem do problema, o médico pode pedir exames como dosagem hormonal e raio X de punho para avaliar a idade óssea. É importante mencionar que, frequentemente, os bebês nascem com uma penugem em várias partes do corpo, chamada de lanugem, que desaparece no decorrer do desenvolvimento e não é motivo de preocupação.

Crianças podem depilar ou descolorir os pelos?
Sim, mas sob orientação do dermatologista e só se o excesso causar problemas psicológicos na criança. É importante ter bom senso. Nada de recorrer a esses processos por simples capricho de um adulto. As crianças, em geral, só vão se preocupar com essa característica em idade escolar, por volta de 5 ou 6 anos, quando começam a se socializar mais. Antes disso, os procedimentos não são recomendados. Também é essencial levar em conta a capacidade do seu filho de suportar a dor. Após os 12 anos, a tolerância costuma ser maior. Pode-se usar água oxigenada volume 10 para descoloração, mas antes é preciso fazer um teste de alergia. Espalhe um pouco do produto no pulso da criança e aguarde alguns minutos. Se surgir coceira ou vermelhidão, lave bem e suspenda o uso. Por provocarem mais reações, os pós descolorantes são contraindicados. Já o laser é permitido a partir dos 10 anos, mas só funciona em pelos grossos e escuros.

O que fazer quando o menino começa a ter bigode ou barba muito cedo?
Antes dos 9 anos, isso pode representar alguma doença, portanto, requer avaliação médica. Um adulto pode remover os pelos da criança com uma lâmina (com creme espumante), por questões estéticas. Mas, novamente, é fundamental considerar a questão do custo-benefício, já que o uso da lâmina pode deixar a pele irritadiça. Portanto, embora não haja idade mínima específica para lançar mão desse recurso, ele só é indicado se o fato de ter pelos na infância trouxer prejuízos psicológicos para a criança.

Dá para reduzir a quantidade?
Quando o excesso é consequência de uma doença, trata-se a causa e a concentração de pelos reduz gradualmente. Quando o problema é estético, deve-se procurar um dermatologista e verificar a possibilidade de removê-los, de acordo com a idade, o tipo de pele e de pelo. Não há consenso sobre o melhor método a ser utilizado.

Menina pode usar lâmina?
Sim, essa é uma alternativa para eliminar os pelos indesejados, muito embora possa causar irritação na pele. É importante ressaltar que, por não afetar a raiz, a lâmina não engrossa os pelos. Essa impressão se deve ao fato de que eles são cortados no meio da haste, onde são mais espessos do que na ponta. Em outras palavras, nenhuma menina vai ter mais buço porque teve os pelos raspados.

Como os pais devem conversar com os filhos quando eles se incomodam com os pelos?
Eles devem transmitir tranquilidade. Em caso de constrangimento da criança, uma boa dica é dividir com ela suas experiências, dando exemplos de características físicas suas que não te agradam e de como é importante aceitar a si próprio, tendo consciência de que ninguém é igual a ninguém. Se preciso, busque orientação psicológica.

Como agir em caso de bullying?
Primeiro, é preciso ficar de olho nos sinais que indicam que a criança está enfrentando essa dificuldade. Os mais evidentes são isolamento, falta de entusiasmo, resistência em ir à escola, mudança de comportamento ou agressividade sem sentido. Diante deles, o ideal é conversar com os educadores e, em seguida, procurar a ajuda de um psicólogo, que saberá orientar os pais, a criança e a escola a lidar com a situação. É importante que o seu filho aprenda a contornar a agressão do jeito dele. Não é recomendado subestimar o fato, assim como não se deve sentir pena da criança. Outro erro frequente dos adultos é incentivar o filho a se isolar dos colegas, tratando-os como pessoas necessariamente hostis. O afastamento indiscriminado dificulta a familiarização com a diferença.

Fontes: Rosângela Rea, endocrinologista da Universidade Federal do Paraná; Leandra Steinmetz, pediatra endocrinologista do Instituto da Criança do Hospital das Clínicas de São Paulo; José Antônio Marcondes, endocrinologista do Hospital Sírio Libanês (SP); Bonald Cavalcante de Figueiredo, diretor científico do Instituto de Pesquisas Pelé Pequeno Príncipe, Curitiba (PR); Juliana Garbers, psicóloga especialista em estimulação precoce e educação especial, de Curitiba (PR); Florival Scheroki, psicólogo clínico comportamental, doutor em Psicologia pela USP; Tatiana Steiner, dermatologista da Sociedade Brasileira de Dermatologia.


Revista Crescer

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