sábado

Não sabia que estava grávida e...

... fumei, não tomei ácido fólico, comi comida crua, fiz raios-X. Entenda as implicações reais de tudo o que a gente sabe que não é bom, mas acaba fazendo sem querer, até descobrir que está esperando um filho


Quando a publicitária Shirley Hilgert já estava sofrendo muito com a sinusite, não aguentou e foi ao médico. Não sem antes fazer um teste rápido de gravidez, já que havia se descuidado do anticoncepcional. Uma listrinha: negativo. E lá foi ela para o hospital. Saiu com uma injeção de corticoide e dez dias de antibiótico, dos quais seguiu sete até que percebeu que a menstruação não descia de jeito nenhum. Foi quando, numa tarde de julho, decidiu fazer outro teste: positivo. “Entrei em pânico. Comecei a ligar para o meu obstetra sem parar. Eu estava com muito medo por causa dos remédios, precisava entender quais eram os riscos para o feto”, lembra Shirley, autora do blog Macetes de Mãe, mãe de Leonardo, 2, e grávida de 15 semanas.

Para o alívio da gestante, o médico afirmou que o tipo de remédio que ela havia tomado não afetava diretamente o bebê em formação. “Fiquei mais tranquila, mas aí comecei a lembrar que tinha comido peixe cru duas vezes na semana e ingerido bebida alcoólica em uma festa”, conta. A verdade é que, quando a gravidez vem de surpresa, como a de Shirley, ninguém está imune aos descuidos, que geralmente não acontecem quando o bebê é planejado. Ácido fólico, por exemplo, dificilmente entra na rotina três meses antes da concepção, conforme é preconizado.

A boa notícia é que nem sempre os deslizes são motivo de preocupação, como explica o ginecologista e obstetra Alexandre Pupo, do Hospital Sírio Libanês (SP): “No período em que o embrião está grudado na parede do útero, as trocas sanguíneas entre ele e a mãe ainda são poucas. Para que algo afete o bebê, a mulher precisa ter consumido doses maciças de determinada substância tóxica”, tranquiliza. O especialista explica que, entre o processo de ovulação, fecundação e atraso menstrual, que é quando as mulheres geralmente descobrem a gravidez, transcorrem mais ou menos 27 dias sem que haja trocas efetivas. “O problema começa pra valer a partir daí, quando mãe e filho começam a compartilhar substâncias nutritivas, sangue e oxigênios.”

Não foi convencida? OK, a gente sabe bem que culpa de mãe é muito difícil de tirar da cabeça! Por isso, fizemos uma lista de perrengues que as mulheres podem enfrentar antes de descobrir que terão um bebê e explicamos as implicações reais e científicas (ou falta delas!) para o feto em formação. Veja a seguir:

- Ingerir bebida alcoólica
Você costuma beber seu vinho semanal e a boa e velha cervejinha de final de semana? Os especialistas afirmam que não há estudos que mostrem os efeitos do álcool eventual nas fases iniciais da gestação. Por isso, é bem possível que seu obstetra proíba o consumo em qualquer dose.

- Fumar
O principal efeito do cigarro está relacionado à malformação placentária, mas traz riscos para mãe e filho, como explica o ginecologista Paulo Martin Nowak, da Associação de Obstetrícia e Ginecologia do Estado de São Paulo (SOGESP): “No bebê, aumenta as chances de nascimento com baixo peso, parto prematuro e descolamento da placenta. Já a mãe tem risco aumentado de trombose venosa profunda, uma doença que pode levar à morte”. Estudos mostram que os riscos se mantêm mesmo em quem fuma poucos cigarros por dia. Por isso, mesmo que você só consiga parar lá pelo 2º ou 3º mês de gravidez, mudar esse hábito o quanto antes é fundamental.

- Não tomar ácido fólico
Descobriu a gravidez de repente? Uma das primeiras recomendações do seu médico, sem dúvida, é tomar ácido fólico. A vitamina do complexo B ajuda na formação do tubo neural e na medula espinhal do bebê, além de diminuir os riscos de problemas cardíacos. A recomendação formal é para que a mulher consuma 400 mg por dia, três meses antes e três após a concepção. Se você não se preparou nas semanas anteriores, não significa que seu bebê terá problemas, desde que a suplementação faça parte da dieta a partir do momento da descoberta da gravidez.

- Consumir remédios
Alguns medicamentos estão relacionados à malformação fetal, como é o caso do princípio ativo isotretinoína e do ácido retinóico, presentes em produtos para tratamento de acne. A recomendação é que o uso seja suspenso de três a um mês antes de engravidar. As medicações antigripais costumam conter mais de uma substância ativa na fórmula, por isso, também devem ser evitada. O mesmo vale para colcichina, usada para o tratamento de doenças reumatológicas, e para o anticoagulante varfarina. Se a concepção ocorrer enquanto você estiver consumindo algum destes medicamentos, o ideal é suspender o uso imediatamente e procurar o obstetra.

- Fazer raio-X
A radiografia costuma provocar verdadeiro pavor em grávidas. E não é para menos, já que a exposição a altas doses de radiação pode comprometer o desenvolvimento do embrião e favorecer o aparecimento de leucemia na infância. Mas, se você tirou algumas chapas enquanto estava grávida, não precisa se preocupar. “Alguns estudos sugerem que é possível realizar até dez exposições sem comprometer o feto. Já a tomografia é um exame que emite uma quantidade de radiação muito maior, por isso, deve ser evitada em qualquer fase”, afirma Nowak. 

- Consumir alimentos crus
Se você é fã de carpaccio ou comida japonesa, é melhor se preparar. Ao longo dos nove meses, você vai precisar evitar ao máximo os alimentos crus, especialmente os preparados fora de casa. O problema está no risco de infecção alimentar. A carne crua é um veículo de transmissão da toxoplasmose. Já o peixe, quando não está fresco, ou o frango mal cozido podem transmitir a listeriose. Ambas são doenças infecciosas que podem causar alterações na formação fetal e, pior, levar ao aborto. O alerta também vale para a salada mal lavada e para gemas de ovo cruas e maionese, que podem estar contaminadas por bactérias que também causam infecção alimentar.  Se você consumiu algum desses alimentos no início da gestação, não deixe de avisar o seu médico. Ele vai solicitar uma investigação mais detalhada no pré-natal para afastar qualquer risco. 

- Fazer escova progressiva
A maioria dos tratamentos químicos capilares contém formol em sua composição, que é uma substância apontada como cancerígena pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e pelo Instituto Nacional do Câncer (Inca). “Por ser um hidrocarboneto volátil, o risco é a mulher aspirar e ir parar na corrente sanguínea, podendo causar problemas no desenvolvimento fetal”, explica Pupo. Por todos esses motivos, o tratamento estético deve ser interrompido assim que a gravidez for descoberta.

- Excesso de exercício físico

Todo mundo sabe que fazer atividade física, inclusive durante a gravidez, deixa a mulher mais saudável e feliz. O problema começa quando o excesso chega. Atletas de alto nível, como maratonistas ou futebolistas, podem sofrer com alterações metabólicas e hormonais, o que, na verdade, dificulta a concepção. Uma vez que a mulher já estiver grávida, não deve parar de se movimentar, já que o exercício é prevenção de pré-eclâmpsia, sobrepeso e diabetes gestacional, além de aumentar as chances de parto normal. Os exercícios mais indicados, porém, são os de baixo impacto, como caminhada, hidroginástica e ioga.

Fonte: revista Crescer

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