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Leite: tudo o que você precisa saber sobre ele

Ele é o primeiro alimento da vida e essencial para o desenvolvimento dos órgãos e para a formação óssea das crianças. Do materno ao de caixinha, descubra tudo sobre o leite na dieta infantil

Leite (Foto: Diego Caglioni/Getty Images)
Poderoso.  É assim que podemos descrever, muito resumidamente, o leite materno, já que ele tem tudo (e na medida certa!) que o bebê precisa para se desenvolver plenamente nos primeiros meses de vida. Recomendado pela Organização Mundial de Saúde (OMS) como alimento exclusivo até os seis meses e como complemento até os 2 anos ou mais, ele é composto por proteína, carboidrato e gordura. É uma fonte inesgotável de vitaminas e minerais, como cálcio, potássio, zinco, magnésio e fósforo, que garantem o bom funcionamento das células, tecidos, músculos e órgãos do corpo todo. E o melhor: já vem aquecido e pronto para o consumo. “O organismo da mãe é tão sábio que ele sai do seio na temperatura corporal, cerca de 36ºC a 37ºC, para a criança não perder caloria”, explica o pediatra Hugo Ribeiro, professor da Universidade Federal da Bahia, consultor da OMS e especialista em nutrologia infantil pela Universidade de Cornnel (EUA). Água também é o que não falta a ele. É por isso que a criança amamentada somente no peito até o sexto mês não necessita de mais nada.

Além de nutrir e hidratar, o que torna esse leite ainda mais precioso é seu poder de evitar inúmeras doenças, fortalecendo o sistema imunológico dos bebês por meio dos anticorpos da mãe, que são liberados para o filho naturalmente do início ao fim da mamada. Recentemente, uma pesquisa da Universidade de Western (Austrália) revelou outro feito: durante a amamentação, se o leite que retorna pelos ductos mamários com a saliva do bebê carregar micro-organismos nocivos, o organismo da mulher os identifica estimulando uma resposta imunológica que muda a composição do leite. Ou seja, aumenta a quantidade de leucócitos para proteger a criança de infecções. Não à toa, os especialistas são unânimes em afirmar que ele é o melhor alimento para a criança, mesmo após a introdução alimentar, que deve ocorrer a partir do sexto mês.

Porém, mesmo com tamanha importância, apenas metade das mães consegue amamentar o filho até o primeiro ano, segundo dados de uma pesquisa publicada na revista científica The Lancet. O estudo mostrou também que 68% das crianças brasileiras são amamentadas na primeira hora de vida e apenas 25% até os 2 anos. Há uma série de fatores que podem prejudicar o aleitamento, como a anatomia e fissuras dos seios, o estresse no pós-parto, entre outros (confira quadro ao lado). E, como a criança precisa ganhar cerca de 30 gramas por dia ou 900 gramas por mês nos primeiros meses de vida para se desenvolver bem, quando ela não atinge essa meta e o ganho insuficiente de peso está comprometendo a saúde, o pediatra pode sugerir a fórmula láctea como coadjuvante do leite materno.

Versão artificial X caixinha
Também conhecido como leite em pó, a fórmula láctea foi desenvolvida na década de 1970, mas só na metade dos anos 1980 tornou-se popular. Como o leite materno não pode ser copiado, a maioria é feita a partir do leite de vaca e tem característica semelhante ao humano, já que são enriquecidos com nutrientes no processo de fabricação, como vitaminas A e D (que não tem no leite animal), essenciais para formação óssea e para o sistema imunológico. A quantidade de gordura, proteína e o carboidrato (lactose, que é o açúcar do leite) também é modificada para atender a cada fase do desenvolvimento da criança.
Vale lembrar que as fórmulas devem ser servidas de acordo com as instruções da embalagem, respeitando a idade da criança e a quantidade de pó e água. “Colocar mais leite do que o recomendado pode levar ao excesso de peso e, menos, fará com que a criança não receba a quantidade adequada de nutrientes. Na hora de preparar, também é importante usar água filtrada”, diz a pediatra e nutróloga Daniela Gomes, do Hospital do Coração (SP). Vale lembrar que o tipo de fórmula a ser oferecida deve ter recomendação do pediatra ou nutricionista, de acordo com as necessidades de cada criança.

Embora os fabricantes indiquem o composto lácteo até os 2 anos ou mais, o pediatra Hugo Ribeiro alerta que, como a criança já come de tudo após 1 ano,  inclusive os derivados do leite, como queijos e iogurtes, o organismo já está acostumado a digerir o leite de vaca integral, popularmente chamado de caixinha. “Portanto, ela não precisa mais do artificial que, inclusive, é mais calórico e caro”, diz. No entanto, o leite de vaca é considerado o mais polêmico na área alimentar.

O médico americano Frank Oski, ex-diretor do Departamento de Pediatria da Universidade John Hopkins (EUA) e autor do livro Don’t Drink Your Milk ("Não Beba o seu Leite", em tradução livre), afirma que o alimento da vaca foi feito para os bezerros e não para humanos e possui proteínas e gorduras que são difíceis de serem digeridas. Ou seja, pode provocar alergias, constipação intestinal, difícil digestão, irritação dos tecidos e órgãos e baixar os níveis de minerais no sangue. Algumas pesquisas também mostram que alterações hormonais em crianças e adolescentes poderiam estar associadas com o consumo exagerado do alimento e seus derivados. Porém, vários outros estudos, como o do médico norte-americano Robert J. Collier, publicada no Journal of Animal Science, e pesquisa referência para o assunto, mostra que, embora exista o uso de hormônios do crescimento na alimentação dos animais, essas substâncias não são absorvidas pelo nosso organismo. Para os especialistas entrevistados pela CRESCER, apenas crianças com intolerância a lactose ou alergia à proteína do leite devem evitá-lo. Segundo eles, como cerca de 70% da massa óssea é criada até a adolescência, o cálcio (considerado o “cimento” do osso) é indispensável.
O leite de caixinha pode ser encontrado nas versões integral, semi-desnatado (com 50% menos calorias e gordura) e desnatado (isento de gordura e com poucas calorias). O melhor tipo para as crianças a partir de 1 ano – se ela não for obesa ou tiver problemas cardiovasculares ou refluxo, por exemplo – é o integral, que contém mais gordura, importante na infância desde que seja consumida com moderação.

Na prateleira, você encontra o pasteurizado ou Ultra High Temperature (UHT, em embalagem longa vida). A diferença entre eles está no tipo de temperatura a que são submetidos para eliminação dos micro-organismos. No processo de pasteurização, é aquecido a 75ºC. Deve ser conservado sob refrigeração e tem um prazo de validade médio de cinco a dez dias. Já no UHT, a bebida é aquecida a 150°C e depois resfriada. Seu tempo de prateleira é mais longo, até quatro meses, sem precisar de refrigeração. Vale lembrar que os dois tipos não precisam ser fervidos para o consumo e devem ser conservados na geladeira após aberto.

Alimento indispensável?
Apesar de todos os benefícios do leite, não há um consenso sobre até quando a criança ou o adulto precisa consumir esse tipo de alimento. “É claro que há outras formas de consumir cálcio na alimentação. Mas, como o leite é o alimento que tem o mineral em maior abundância, fica mais fácil atingir a meta”, defende o pediatra Hugo Ribeiro. Essa quantidade ideal a que se refere o pediatra equivale a 1.000 mg/dia do mineral, levando em conta uma criança de 4 a 8 anos, segundo a Sociedade Brasileira de Pediatria. Ou seja, dois copos (200 ml) de leite e um pote de iogurte; ou uma fatia média de queijo, uma colher (sopa) de requeijão e um copo (200 ml) de leite por dia. Ao considerar uma dieta sem leite, seriam necessárias 13,5 porções de brócolis ou 48 ramos de espinafre diariamente.


Se o seu filho tem dificuldade de consumir o leite in natura, uma alternativa é oferecê-lo batido com frutas, no cereal (sem açúcar, claro!) ou em forma de mingaus, como o de aveia. Só tome cuidado para não adoçá-lo ou misturá-lo com achocolatados. Por mais que sejam bem aceitos pelas crianças, têm alto teor de glicose. Assim, o que seria um benefício acaba prejudicando o equilíbrio na alimentação da criança.

(Foto: Crescer)

Não desista!

Amamentar nem sempre é fácil, mas não impossível. Claro que há uma série de questões que podem dificultar o aleitamento, e não só no que diz respeito à mãe. “Prematuros, por exemplo, tendem a ter dificuldade em sugar, crianças com problemas anatômicos na boca também. Ainda assim, todos eles podem ser driblados, desde que a mulher receba apoio e orientação”, diz o pediatra e nutrólogo Ary Lopes Cardoso, responsável pela Unidade de Nutrologia do Instituto da Criança do Hospital das Clínicas, da Faculdade de Medicina da USP. Mas uma das grandes barreiras para o sucesso da amamentação é quando a mãe passa a desacreditar da capacidade do leite que produz. Por isso, nunca é demais reforçar: não existe leite materno fraco. E, ele é, sim, o melhor alimento que você pode oferecer ao seu filho. Por isso, insista. Será essa persistência, aliás, que vai ajudar na produção. “Os seios não são reservatórios que esvaziam. Eles produzem o líquido durante as mamadas. Por isso, quanto mais o bebê sugar, mais leite a mãe terá. Quem dita isso é a criança, de acordo com sua saciedade”, explica a pediatra e nutróloga Daniela Gomes. Portanto, relaxe, até porque o nervosismo pode ser prejudicial. Quando a mãe está estressada, o organismo pode ter dificuldade de liberar a ocitocina, hormônio responsável pela descida do leite. Mas, veja só, mesmo nesses casos, ainda há saída, por meio da relactação – técnica em que se utiliza uma sonda para o bebê mamar no peito. Confie no seu taco e peça ajuda sempre que sentir necessidade.


(Foto: Crescer)

Entenda o rótulo

Dependendo do fabricante, a fórmula pode ter a versão normal ou específica para atender crianças alérgicas à proteína, intolerantes a lactose, com refluxo gastroesofágico e constipação intestinal. Porém, siga a orientação do pediatra do seu filho. Confira: 

AR ou Antirrefluxo – É igual à fórmula normal, mas tem um amido que, junto com o suco gástrico, forma um gel e “pesa” no estômago, evitando que o leite volte.

Sem lactose – É indicado para crianças que têm intolerância a ela (entenda mais na página a seguir) e apresenta sintomas como diarreia persistente, cólicas abdominais e flatulência.

HA ou Fórmulas Hipoalergênicas – Possui proteínas hidrolisadas ou parcialmente hidrolisadas para quem tem alergia à proteína do leite de vaca.

Fórmulas prebióticas – Geralmente esse tipo contém adição de fibras para as crianças que sofrem com constipação intestinal.

DHA e ARA – Trata-se de gorduras importantes para o desenvolvimento mental da criança. No entanto, a maioria das fórmulas já tem.

À base de soja – Feito a partir da proteína isolada da soja, pode ser suplementado com aminoácidos (responsável pela formação muscular). Outra opção para crianças com alergia e intolerância.

Intolerância ou alergia?
Estima-se que uma a cada 20 crianças tem alergia à proteína do leite de vaca (APLV) e podem apresentar coceira, urticárias e inchaço como sintomas dessa reação alérgica. Esses, aliás, podem aparecer durante o aleitamento materno ou depois, na introdução de outro leite. A enfermeira Aline Vanzelli, 22 anos, descobriu algumas bolinhas e manchas vermelhas no corpo de sua filha Laura, 1, quando ela tinha três meses. “Como o médico suspeitou de APLV e ela mama no peito, ele pediu para eu retirar o ingrediente da minha alimentação, pois a proteína era passada para ela através do meu leite”, conta. Após excluí-lo da dieta, a menina parou de ter problemas. Segundo o pediatra Fábio Ancona, especialista em nutrição infantil (SP), a falta de diagnóstico preciso pode aumentar os riscos e, em casos extremos, até levar à morte por anafilaxia, que é a reação mais grave. Já a intolerância à lactose é outra doença. “Ela acontece quando o organismo não produz a quantidade ideal de lactase, enzima intestinal responsável por digerir a lactose, o que leva a reações como diarreia, vômito e assadura perianal”, diz o pediatra Antonio Carlos Pastorino, chefe da Unidade de Alergia e Imunologia do Instituto da Criança (SP). Como os especialistas não recomendam o uso de lactase sintética para crianças, principalmente menores de 5 anos, é melhor retirar o componente da dieta. Na dúvida, procure sempre um especialista.

Alternativas
Já ouviu falar dos leites vegetais? Eles podem ser consumidos por crianças com APLV ou intolerância a lactose, a partir de 1 ano, e são encontrados nas versões soja, aveia, arroz e coco, entre outros. Só não se iluda: a composição deles é bem diferente do leite comum, apesar de receber esse nome. “Como geralmente é feito a partir do grão ou cereal com água, herda os componentes nutritivos e o sabor daquele alimento”, diz Débora. O leite de arroz, por exemplo, é rico em carboidratos e de fácil digestão, mas pobre em cálcio (a não ser que o fabricante enriqueça o produto com o mineral e outros nutrientes). O de aveia é rico em zinco (que reforça a imunidade) e em fibras, que ajudam o intestino preguiçoso. Já o de soja é o melhor no quesito proteína, pois contém maior quantidade do nutriente. Há vários tipos disponíveis no mercado e até mesmo aqueles com adição de frutas, que tem melhor aceitação pelas crianças. Mas evite comprar o produto sem conversar com o pediatra, já que muitos podem conter açúcar em sua formulação. Você também pode fazer em casa. Confira passo a passo abaixo.
Indicação: a partir de  1 ano
rendimento: 800 ml

1 copo (200 ml) de aveia em flocos
4 copos (200 ml) de água

Misture tudo em uma jarra e deixe de molho (dentro ou fora da geladeira) por 12 horas. Depois, bata no liquidificador e peneire com um pano limpo. O leite deve ser consumido no mesmo dia.

Fonte: revista Crescer

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