quarta-feira

Poliomielite: a erradicação da doença no mundo está muito próxima



“É uma questão de meses para que a erradicação global da pólio se concretize”, declarou o médico Hamid Jafari, diretor da Iniciativa Global de Erradicação da Pólio, nesta segunda-feira (8), durante a 106ª Convenção Internacional do Rotary, em São Paulo. Durante o evento, foram celebrados os 30 anos da iniciativa, que é resultado de uma parceria público-privada entre o Rotary, a Organização Mundial da Saúde (OMS), o Centro Norte-americano para Controle e Prevenção de Doenças, a Fundação Bill e Melinda Gates e o Unicef.

O número de casos de poliomielite tem sido reduzido significativamente desde que a Iniciativa Global de Erradicação da Pólio começou a atuar. Se na década de 80 eram registrados cerca de 350 mil ocorrências por ano, em 2014 esse número não passou de 400. E, se tudo acontecer conforme planejado, a erradicação está próxima, o que significa que a pólio será a segunda doença a ser erradicada no mundo. A primeira foi a varíola, declarada fora de circulação em 1980.

Para Jafari, o Brasil teve um papel importante nesse longo combate à pólio. “Uma das maiores contribuições para a erradicação em países endêmicos é perceber que as rotinas de imunização são eficientes para controlar a doença, mas não para erradicá-la: é preciso fazer campanhas de vacinação em massa. Essa lição foi aprendida primeiro no Brasil”, explica. Por ser um país de grandes proporções geográficas e enormes diferenças sociais, o desafio da erradicação da doença por aqui era ainda maior. Por isso, quando os especialistas entenderam que era preciso vacinar o maior número de crianças possível, adotaram essa estratégia globalmente - e deu certo.

O médico também ressaltou a contribuição técnica do Brasil no desenvolvimento dos planos para a erradicação da pólio, por meio da colaboração do epidemiologista Ciro de Quadros, que faleceu no ano passado. O médico gaúcho recebeu diversos prêmios por seu trabalho de pesquisa que muito agregou ao combate à pólio e ajudou também a erradicar o sarampo nas Américas. “Para muitos de nós ele é um herói da saúde pública”, conta Jafari. O trabalho do epidemiologista continua dando frutos por meio de muitos de seus estudantes,  envolvidos em pesquisas que visam a erradicação de doenças.

O papel dos voluntários e o apoio dos governos e da sociedade civil também foram lembrados como essenciais nesse longo processo de combate à pólio, mas Jafari ressaltou que manter o vírus fora de circulação é um trabalho contínuo, que depende sobretudo da colaboração dos pais. “O Brasil está livre de pólio porque as mães levam seus filhos para serem vacinados. A razão de o vírus não conseguir circular por aqui é que ele não encontra crianças vulneráveis”, reforça. Por esse motivo, é imprescindível seguir à risca o calendário de vacinação, que você pode consultar aqui. Quando você imuniza o seu bebê, está ajudando a proteger também outros bebês, porque não dá a chance de que o vírus se instale e se multiplique. É o que se chama de "imunidade de grupo"  ou "efeito rebanho": quanto mais crianças vulneráveis dentro de um grupo, maior é a probabilidade de que o vírus se dissemine. Essa foi a causa do surto de sarampo na Disney dos Estados Unidos. "Queremos que as mães no Brasil sejam mais espertas que as mães na Califórnia", brincou Jafari.

Sobre a poliomielite
A doença é causada pelo poliovírus, que pode ser transmitido através de contato direto com pessoas infectadas, principalmente por meio de fezes, muco e catarro, mas também pode passar pelo ar. O vírus se reproduz no intestino, mas ataca o sistema nervoso, destruindo neurônios e provocando paralisia total ou parcial. Crianças menores de 4 anos são o grupo mais vulnerável.

A América Latina foi a primeira região a ser erradicada do vírus do pólio. O último caso de que se tem registro aconteceu no Peru, em 1991, e, a partir de 1994, o país foi considerado livre da doença – há sempre uma janela de três anos para que a erradicação possa ser comprovada. Hoje, há apenas três lugares em que o vírus ainda circula: Nigéria, Afeganistão e Paquistão. No primeiro, em 2013 foram registrados 53 casos de pólio, em 2014, esse número caiu para 6 e, até agora, não há casos registrados em 2015.

Fonte: revista Crescer

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