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Gravidez: o que você pode fazer já pela saúde do seu bebê

Da alimentação a técnicas de relaxamento, há muito o que fazer pelo bem do seu filho ao longo dos nove meses de gestação

Os cuidados com o bebê começam durante a gravidez (Foto: Getty Images)
Apesar de o corpo da mulher ser biologicamente preparado para gerar um bebê saudável, ações, escolhas e sentimentos ao longo dos nove meses podem impactar na formação da criança, que convive com o conjunto de sons produzidos internamente pelo corpo da mãe, como o batimento do coração e ruídos intestinais, além dos externos – que ele começa a ouvir por volta do quinto mês de gestação, de forma rudimentar. A psicanalista Joana Wilheim é categórica ao afirmar no livro O Que É Psicologia Pré-Natal (2002, Ed. Casa do Psicólogo) que o feto “tem vida emocional estreitamente vinculada à sua mãe, captando os seus estados emocionais e sua disposição afetiva com ele”. Para ajudar nessa etapa, CRESCER recorreu às pesquisas mais recentes e consultou especialistas na área. O resultado é um manual que pode ser seguido por você nesses nove meses. Prepare o caderninho de anotações!

1. Tudo começa com o ácido fólico
Ao lado do “sexo do bebê” e do “tipo do parto”, o ácido fólico também deveria fazer parte das principais preocupações das grávidas. A vitamina do complexo B é essencial para formação do tubo neural do bebê, prevenção de malformações e síntese de DNA. Por isso, os médicos recomendam a suplementação por pelo menos três meses antes da concepção. Ótimo na teoria, já na prática... Um levantamento da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia, a Febrasgo, apontou que apenas 3% das gestantes atendidas pela rede pública de saúde ingerem os níveis diários de ácido fólico (400 microgramas, como recomenda a Organização Mundial da Saúde). O número sobe para 30% nas mulheres que fazem o pré-natal particular, mas está longe de ser ideal. Uma tentativa de aumentar as taxas do nutriente no organismo da população veio em 2002, quando a Anvisa e o Ministério da Saúde determinaram que fabricantes de farinha de trigo e milho deveriam enriquecer os alimentos com ácido fólico. Nos Estados Unidos, uma política semelhante já resultou em benefícios comprovados pelo Centro de Prevenção e Controle de Doenças. Em artigo publicado em janeiro, os pesquisadores da entidade enfatizaram que anualmente 1.300 bebês no país são salvos de nascer com malformações no cérebro e na espinha graças apenas à fortificação de alimentos coma vitamina.

2. Vacinas atualizadas
Ao sentar-se pela primeira vez com o seu obstetra, esteja você grávida ou apenas começando os planos, é bem possível que ele peça a atualização da carteira de vacinação que, idealmente, deve ser feita seis meses antes da concepção. “É preciso garantir que a gestante esteja imune à rubéola, à hepatite B, à difteria e ao tétano”, esclarece o ginecologista e obstetra Leopoldo de Oliveira Tso, membro da Sociedade Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia de São Paulo (Sogesp). Se você não está com ela em dia, não fique preocupada: poderá receber a imunização assim que descobrir a gravidez. Desde o fim de 2014, a vacina acelular contra coqueluche dTpa (que também protege contra difteria e tétano) teve sua importância aumentada quando entrou para o Calendário Nacional de Vacinação pelo Sistema Único de Saúde (SUS). A recomendação do Ministério da Saúde é que a dose seja aplicada entre as 27ª e a 36ª semana de gestação, período que gera proteção também para a criança (estimada em 91%), e pode ser ministrada até, no máximo, 20 dias antes da data do parto. A vacina da gripe é outra que pode ser recomendada pelo especialista, principalmente no outono, quando a doença é mais frequente.

3. Balança calibrada
Esqueça a ideia de que “grávida come por dois”. O que importa não é a quantidade e sim a qualidade dos alimentos. A gestação faz com que o corpo absorva nutrientes com mais facilidade, o que é ótimo por um lado. Por outro, proporciona rápido ganho de peso com a alimentação em excesso, o que pode colocar em risco a saúde da mãe (provocando diabetes gestacional) e do bebê. Um dos maiores estudos recentes sobre o assunto veio do Kaiser Permanente Medical Center, na Califórnia (EUA). Depois de acompanhar por três anos mais de 10 mil gestantes, descobriu-se que mulheres acima do peso dão à luz a bebês macrossômicos (com mais de quatro quilos). “Isso aumenta os riscos de complicações, tanto para a mãe durante o parto quanto para a criança, que pode ter alterações metabólicas e até psicológicas ao longo da vida”, descreve uma das autoras do estudo, Mary Helen Black, em artigo publicado no jornal científicoDiabetes Care. Esses bebês têm risco aumentado de nascer com problemas respiratórios, além de poder haver relação com casos de câncer, diabetes, obesidade, pressão alta e doenças cardíacas na vida futura. É por isso que uma gravidez saudável passa obrigatoriamente pelo controle da alimentação.

4. Um novo cardápio
Não adianta controlar a aquisição de quilos extras, sem reformular o menu. O sal, por exemplo, deve ter seu consumo reduzido ao máximo para manter a pressão arterial equilibrada, evitando o aparecimento da pré-eclâmpsia, que pode levar à morte da mãe e do bebê. Bebida alcoólica também deve ser banida na gestação. “Como tem passagem livre pela placenta, o álcool chega ao organismo do bebê afetando sua formação e aumentando os riscos de trazer, no futuro, problemas de comportamento, como hiperatividade e déficit de atenção”, explica a nutricionista Indiomara Baratto, que atende na Casa da Mulher, do Departamento de Obstetrícia da Unifesp. “Isso sem contar a Síndrome Fetal Alcoólica, que faz com que a criança apresente anormalidades faciais, déficit intelectual e problemas cognitivos (no caso de consumo regular da bebida)”. Carnes malpassadas, ovos e peixes crus, leite e derivados não pasteurizados integram a lista dos itens a serem evitados, já que são potenciais transmissores de bactérias. Cafeína, alimentos diet e light e adoçantes artificiais devem ser consumidos com moderação – procure evitar a sacarina e o ciclamato. Apesar dessas restrições, a nutricionista garante que não é assim tão difícil adotar um cardápio saudável. É só lembrar-se dos alimentos que são sempre citados como sinônimos de vitaminas e minerais, como grãos integrais, leite pasteurizado e derivados magros, carnes magras, frutas, verduras e legumes.

5. Movimentos livres
A atividade física é essencial para uma gestação mais tranquila. A personal gestante Gizele Monteiro, consultora e criadora do projeto online Gravidez em Forma, explica: “Além de trazer bem-estar, relaxamento e adrenalina na medida certa, os exercícios físicos ajudam a garantir a força muscular, o que diminui o impacto das alterações ósseas e posturais típicas da gravidez”. Isso sem falar na manutenção do peso, diminuição das dores na região lombar e no quadril e na aceleração da recuperação no pós-parto. “Há estudos que mostram que praticar exercícios na gravidez está associado ao melhor desenvolvimento emocional da mulher e prevenção do aparecimento de depressão pós-parto”. Porém, se os exercícios físicos nunca fizeram parte da sua vida, esse não é o momento ideal para dar as boas-vindas a eles, como explica Oliveira Tso: “A gravidez aumenta o trabalho cardíaco e o peso, o que traz maior risco de lesões ósseo-articulares e sobrecarga no sistema cardiorrespiratório”. O melhor mesmo é procurar o acompanhamento de um fisioterapeuta ou profissional especializado para que o corpo entre num ritmo benéfico para mãe e bebê. Uma massagem, aulas de dança para grávidas e alongamentos podem ser indicados mesmo para as sedentárias.

6. Equilíbrio entre estresse e calmaria
Uma compilação de estudos feita pelo Departamento de Saúde Comportamental e Desenvolvimento da Geórgia (EUA), reuniu muito do que a ciência já descobriu sobre o impacto do estresse e da ansiedade da mãe na gravidez e na vida da criança. Para a mãe, a maior consequência apontada é também a mais trágica: o aborto. Já o bebê de uma grávida estressada pode chegar ao mundo prematuramente, com baixo peso e, no futuro, ter déficit de atenção, problemas emocionais, de conduta e de desenvolvimento. Mas como evitar a tensão se só de ler a frase acima já começa aquele leve desespero? Acalme-se, respire. Respire lenta e profundamente, inspirando pelo nariz e expirando pela boca. Sim, essa é uma dica valiosa para quando se está no meio de um “ataque de nervos”. Como medida preventiva, a psicóloga Lália Dayse Farias, do Instituto Nacional de Saúde da Mulher, da Criança e do Adolescente Fernandes Figueira (IFF/Fiocruz), no Rio de Janeiro, aconselha o envolvimento com atividades que garantem o alívio da tensão, como ioga, meditação, caminhadas ao ar livre ou acupuntura, se liberado pelo obstetra. “Ver um bom filme, ler um livro ou ouvir uma música que você gosta ajuda a distrair a cabeça.”

7. Preparação para a amamentação
Cumpridos os passos acima, é hora de focar na prevenção de complicações em um dos momentos mais especiais pelos quais você está prestes a passar: a amamentação. Aqui cabem basicamente duas medidas. A primeira começa no cardápio, já que o aumento da ingestão de água, vitaminas e minerais ajuda na produção do leite. A segunda medida é tornar as mamas mais resistentes tomando sol diretamente nos seios, deixando exposto à luz ou esfregando uma bucha macia uma vez por semana – a exposição de 15 minutos diários à lâmpada de 40 watts do abajur, a dez centímetros de distância, já é suficiente. Não é recomendado passar hidratante nas aréolas. No resto do corpo, no entanto, você pode caprichar, especialmente na área da barriga. Aproveite esse tempo para conversar bastante com seu bebê e cantar ou pôr para tocar músicas para ele – de preferência aquelas de que você gosta bastante. Tudo o que ele ouvir será guardado em áreas mais emocionais do cérebro e, quando ele já tiver nascido, poderá resgatar essas memórias dos sons familiares por meio de sentimentos e sensações. Além disso, ele também sentirá o que você estiver sentindo, ou seja, o prazer e o relaxamento que a canção traz para você. Tudo isso, certamente, ajuda no desenvolvimento emocional de seu filho e trará mais segurança a ele quando não estiver mais no útero. E você constrói, desde cedo, laços mais estreitos com seu bebê.


Fonte: revista Crescer

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