É cada vez mais comum mulheres deixarem a carreira corporativa para abrir um negócio. Boa parte delas é motivada pela maternidade. Pensando nisso, a empresária Ana Fontes criou uma rede social focada nas novas empreendedoras
Foi-se o tempo em que a ousadia de abandonar a segurança de um emprego para se aventurar na vida de empresário era uma característica meramente masculina. No Brasil, as mulheres já representam 40% dos profissionais que investem em projetos próprios, conforme revelou a pesquisa Global Entrepreneurship Monitor (GEM 2010), o maior estudo sobre empreendedorismo do mundo. A maternidade muitas vezes é fator preponderante para essa opção feminina. Afinal, ser dona de empresa significa autonomia para administrar o cronograma, reservando mais espaço para o filho na rotina.
É o caso da administradora Ana Lúcia Fontes. Ao completar 40 anos, ela se deu conta de que a vida de executiva em uma multinacional não era mais seu ideal de sucesso – nem de felicidade. Com pouco tempo para dedicar à filha, de 5 anos na época, e com outro bebê a caminho, ela optou por buscar uma atividade que equilibrasse os lados mãe e profissional. Então, abriu mão do emprego para apostar em um projeto de sua autoria: o espaço de coworking My Job Space, em São Paulo, que oferece infraestrutura de escritório e promove eventos, entre outros serviços.
Depois de participar de um curso voltado para mulheres empreendedoras na Fundação Getúlio Vargas (SP), Ana Fontes se animou a colocar outra ideia em prática: uma comunidade colaborativa que visa auxiliar as participantes a desenvolver seus projetos. Foi assim que ela lançou, em 2010, a Rede Mulher Empreendedora.
Sua estrutura consiste em dois canais de comunicação pelo Facebook – uma fanpage e um grupo de discussão –, abastecidos com informações sobre programas de financiamento, novas leis e outros assuntos desse universo. As internautas também têm a possibilidade de trocar experiências, auxiliar umas às outras e responder a dúvidas, além de divulgar o perfil de sua empresa para todos os membros da rede.
Em entrevista exclusiva à CRESCER, Ana falou sobre a tendência de as mães empreenderem como alternativa para conciliar a carreira e a vida familiar. Confira, a seguir, os conselhos dessa mãe e empresária que arriscou e está se saindo bem em seus dois projetos.
CRESCER: Quais são as maiores motivações das mulheres para empreender?
Ana Lúcia Fontes: Apesar de não ser a única, os filhos estão entre as principais razões. Eu, por exemplo, tenho 46 anos e duas filhas pequenas, de 10 e 5 anos. Trabalhei a vida inteira como executiva de multinacional, mas decidi abrir meu negócio há cinco ou seis anos, porque já não me sentia realizada na carreira. Sem falar na questão do tempo que eu não conseguia dedicar a minhas filhas.
C.: A internet seria o espaço de atuação favorito dessas mulheres, devido à possibilidade de trabalhar a distância?
A.L.F.: O mundo offline, que engloba pequenas consultorias, comércios e serviços, ainda concentra a maior parte dos empreendimentos femininos. Mas o número de negócios online, como sites e blogs, está crescendo significativamente. A produção de conteúdo, antes focada em temas como bebês e maternidade, hoje dá lugar a outros assuntos, como dicas para otimizar o tempo ou conduzir uma negociação. Sem contar que há cada vez mais mulheres se dedicando ao e-commerce, principalmente em nichos de domínio feminino, como venda de roupas infantis e produtos de beleza.Para colocar o trabalho em prática, muitas mulheres adotam o modelo de home office. Ou optam por um esquema misto, em que atuam em casa e se deslocam eventualmente a espaços de trabalho compartilhado, para não ficarem confinadas no ambiente doméstico.
C.: Quais os maiores desafios da empreendedora que é mãe?
A.L.F.: Elas sempre perguntam como conciliar tarefas: levar os filhos na escola, tocar a vida pessoal, trabalhar e ainda participar de eventos de networking – importantíssimos para um pequeno negócio, mas que, em geral, ocorrem à noite, o período mais complicado para as mães se ausentarem. Trabalhar meio período é uma opção, se a mulher pretende ter um negócio pequeno. Mas isso não é possível caso a empresa ainda esteja em fase de consolidação, que exige tempo e dedicação. Por fim, a presença dos filhos também é bastante desafiadora, por ser um grande fator de distração.
C.: Quais as características que a maternidade desenvolve e que são perfeitas para o trabalho empreendedor? Como utilizá-las a seu favor?
A.L.F.: A paciência, a persistência e, principalmente, o perfil multitarefa que todas as mães adquirem. O pequeno empreendedor tem que ser naturalmente versátil, porque ele não poderá contar com especialistas em cada uma das áreas do seu negócio.
C.: O que as mulheres devem levar em consideração antes de empreender?
A.L.F.: Mais importante do que estudar muito é entender o que está acontecendo no mundo, quais são as tendências, e não ficar restrita ao que sabe fazer melhor. A saída para aproveitar seu conhecimento é adaptá-lo ao mercado. Uma economista com experiência na área financeira, por exemplo, poderia investir em um portal de finanças, desde que exista demanda para esse conteúdo.
C.: Que dicas você daria para mães que se consideram sem tempo, mas gostariam de se dedicar a um negócio próprio?
A.L.F.: Elas precisam ser organizadas, o que não é tarefa fácil. E quando precisarem se ausentar, devido a compromissos de trabalho, é importante que saibam que existem alternativas para deixar os filhos em segurança e sem culpa. As minhas permanecem na escola em tempo integral. Quando faltam, por alguma razão, eu trabalho um pouco de casa e, se precisar sair, recorro ao apoio da minha sogra, da minha mãe e do meu marido. O lado bom de ser empreendedora é a possibilidade de administrar o tempo e poder ficar com o filho quando ele estiver doente, por exemplo. Procurar trabalhar próximo à sua residência é o ideal, para facilitar a rotina. Também é legal fazer parte de um grupo, porque o contato com pessoas experientes proporciona ideias de negócio, assim como participar de reuniões de empreendedores, como associações comerciais, Sebrae e Fecomércio. Outra sugestão é eleger uma pessoa, entre seus contatos, que seja uma espécie de mentora, alguém que ajude nas horas de dificuldade, quando você precisar de apoio ou de dicas. Além disso, há muitos cursos rápidos que oferecem uma visão geral do que você precisa saber para ser um pequeno empreendedor. É só escolher o seu negócio e seguir em frente.
Fonte: revista Crescer
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