O QUE É?
É quando o alimento volta do estômago para o esôfago. “Acontece com todo mundo, mas muitas vezes a gente nem percebe. É considerado normal quando não é frequente e não causa complicações”, afirma Yu Koda, responsável pela gastroenterologia pediátrica do Instituto da Criança do Hospital das Clínicas, em São Paulo, e membro da Federação Brasileira de Gastroenterologia. Nos adultos, o refluxo é mais controlado porque o organismo possui um mecanismo de defesa que devolve o alimento novamente para o estômago antes de provocar irritações, náusea e vômito.
QUANDO APARECE?
Os especialistas se baseiam em um estudo feito em 1997 pela Universidade Northwestern, em Chicago (EUA), a partir dos depoimentos de 948 pais de crianças saudáveis de até 13 meses. Os pesquisadores perceberam que 50% dos bebês de 3 meses costumam ter pelo menos um episódio de regurgitação por dia. O pico é aos 4 meses, quando 67% dos bebês regurgitam ao menos uma vez por dia. “Entre 4 e 6 meses o refluxo é mais comum, porque o bebê começa a se movimentar mais. Isso diminui naturalmente e só 5% das crianças de um ano sofrem com o problema”, diz Vera Lúcia Sdepanian, professora e chefe da disciplina de gastroenterologia pediátrica da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).
POR QUE É COMUM EM BEBÊS?
O mecanismo que devolve o alimento do esôfago para o estômago está em desenvolvimento no primeiro ano de vida. A válvula, que faz a passagem da comida de um órgão para o outro (o esfíncter do esôfago), fica mais tempo relaxada e facilita o retorno do que foi ingerido. A alimentação e a posição também influenciam. O bebê toma muito líquido e fica a maior parte do tempo deitado. Conforme a criança se desenvolve e ingere alimentos mais sólidos, o refluxo tende a diminuir.
EM QUE MOMENTO DO DIA OCORRE?
Normalmente logo depois das refeições, quando o alimento ainda não foi digerido, e durante o sono. “Costuma ser mais frequente à noite, porque a criança está na posição horizontal e saliva menos”, afirma Mário Vieira, chefe do serviço de gastroenterologia pediátrica do Hospital Pequeno Príncipe, em Curitiba (PR). Também pode acontecer quando a criança se movimenta muito.
PODE SER UMA DOENÇA?
O mais comum em bebês e crianças é o refluxo gastroesofágico fisiológico, que é natural, passageiro e não afeta o bem-estar. “Se a criança ganha peso, não chora nem fica irritada, é porque não compromete o estado geral e emocional”, diz Cylmara Gargalak Aziz Silveira, gastroenterologista infantil do Hospital São Luiz, em São Paulo. Mas existe a doença do refluxo gastroesofágico, que pode ser causada por uma má-formação no aparelho digestivo ou por maus hábitos alimentares. Os sinais de alerta são dor, irritabilidade, recusa de alimentos, regurgitação frequente, vômitos e um ganho de peso baixo. A falta de tratamento pode causar irritação no esôfago, anemia e complicações respiratórias. Outra causa está ligada à obesidade. Um estudo publicado no Jornal Internacional de Obesidade Pediátrica, feito com 690.321 pessoas de 2 a 19 anos, mostrou que ela aumenta de 30% a 40% o risco de doença do refluxo gastroesofágico.
COMO CUIDAR E CONTROLAR?
No caso do refluxo comum, para diminuir o desconforto do seu filho você pode deixar seu bebê em posição vertical ao amamentar e fracionar as mamadas para não exagerar na quantidade de leite. “Quando terminar de amamentar e de fazê-lo arrotar, mantenha-o de 20 a 30 minutos em pé, para que o leite desça, se acomode no estômago e facilite a digestão”, explica Cylmara. Para crianças maiores, a recomendação é evitar alimentos gordurosos, ácidos, condimentados e apimentados, não comer em exagero e não ingerir líquidos junto com a comida, de 20 minutos antes ou entre uma e duas horas depois das refeições. Todos esses hábitos relaxam a válvula do estômago e facilitam a volta do alimento. Na hora de dormir, coloque seu filho mais na vertical e de barriga para cima. A elevação da cabeça com um travesseiro é recomendada. Já se o seu filho apresenta os sintomas da doença do refluxo gastroesofágico, procure o pediatra. Ele pode indicar desde o uso de medicamentos e acessórios, como cintos ou paraquedas, para sustentar a criança, até a necessidade de cirurgia.
Fonte: revista Crescer
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