sexta-feira

Óvulos congelados são tão bons quanto óvulos frescos, dizem especialistas em fertilidade nos Estados Unidos


Apesar de cada vez mais viável, o procedimento não é garantia de gravidez. Saiba para quais situações o congelamento de óvulos é aconselhado

Thais Paiva



Carreira, a busca por um parceiro ideal, a viagem dos sonhos. São vários os motivos que podem levar as mulheres hoje a adiar a maternidade. Por isso, para preservar a fertilidade, muitas optam por congelar óvulos, para que então, no futuro, realizem o desejo de ser mãe. Mas será que esse é um método seguro? 

Na última semana, a Sociedade Americana de Medicina Reprodutiva anunciou na revista científica Fertility & Sterility que o congelamento de óvulos nos Estados Unidos deixa de ser considerado experimental para se tornar um procedimento reconhecido. 

Nos últimos anos, os cientistas analisaram quase 1.000 artigos sobre o tema e concluíram que já existem evidências suficientes para apoiar o método, uma vez que as taxas de gravidez e nascimentos ocorridos a partir de óvulos congelados são as mesmas que as observadas com óvulos frescos. 

Além disso, não foi detectado aumento no número de defeitos de nascença entre os bebês nascidos a partir da técnica quando comparados às crianças nascidas de óvulos frescos ou da população em geral. Em outras palavras, os médicos concluíram que óvulos congelados são tão bons quanto os frescos. 


Grande parte disso deve-se ao advento de uma técnica chamada vitrificação, na qual os óvulos são congelados rapidamente [cerca de 1 segundo], em nitrogênio líquido a menos 196oC. Antigamente, o processo para se chegar a essa temperatura era lento [cerca de 120 a 180 minutos], com a redução gradativa da temperatura. "Entretanto, como os óvulos contêm muita água, era comum a formação de cristais de gelo em seu interior, o que prejudicava a célula. Na vitrificação, evita-se o aparecimento de gelo. Com essa técnica, as taxas de perda do óvulo passaram de 40% para apenas 3%”, explica Fernando Prado, especialista em reprodução assistida do Grupo Huntington de Medicina Reprodutiva (SP).

Quando recorrer a este tipo de procedimento? 
O procedimento de congelamento de óvulos surgiu como opção para pessoas que passavam por algum problema de saúde ou tratamento que comprometia a fertilidade, como a quimioterapia ou histórico de menopausa precoce na família. 

Entretanto, esse cenário mudou. “O mais comum são pacientes sem filhos, na faixa dos 35 anos, que ainda não encontraram um parceiro, mas que desejam preservar sua fertilidade antes de entrar em idade mais avançada”, explica Renato Kalil, ginecologista e obstetra do Hospital e Maternidade São Luiz (SP). 

A recomendação é que o congelamento aconteça até 35 anos, já que a saúde dos óvulos está ligada à idade da mulher no momento do congelamento. “Assim, há menos riscos de o bebê ter doenças, como a síndrome de Down ou outros problemas relacionados com a idade”, diz Prado. 

Passo a passo do processo
Quando a mulher opta por congelar seus óvulos, ela primeiro terá que tomar hormônios para induzir a ovulação. Depois, é feita uma punsão aspirativa transvaginal para a retirada das células (cerca de 10), em um centro cirúrgico e com anestesia. Então, os óvulos são congelados. “O procedimento não tem cortes e é bastante rápido, dura entre 10 e 15 minutos. Os riscos, como infecções, são mínimos”, diz Prado.

Os óvulos podem ficar congelados até 10 anos (depois desse tempo pode haver perda de qualidade da célula). Quando a mulher opta pelo descongelamento, realiza-se a fertilização in vitro, com a injeção do esperma dentro do óvulo maduro. Então, formam-se os embriões em laboratório, que devem evoluir por cinco dias e, depois, são escolhidos aqueles de melhor qualidade para serem transferidos para o útero da mulher, previamente preparado com hormônios. 

A chance de gravidez fica em torno de 40%, a mesma da fertilização com óvulos frescos. Entre os problemas que podem acontecer estão a não sobrevivência do óvulo após ser descongelado e a não fertilização do embrião. 

É seguro?
Apesar de a técnica ser recente - e de haver poucas crianças nascidas a partir deste método, o que dificulta a obtenção de dados sobre a saúde delas a longo prazo -, os especialistas entrevistados para esta reportagem acreditam que os bebês nascidos de óvulos congelados são tão saudáveis quanto qualquer outro bebê. 

“Não se perde carga genética na vitrificação. O que pode influenciar o desenvolvimento do bebê é a própria qualidade do óvulo, mas isso não está ligado ao congelamento, e sim aos genes passados pela mãe”, diz Kalil. 

Fonte: Revista Crescer

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