terça-feira

A gravidez de gêmeos

A notícia costuma ser um susto e a gestação requer mesmo atenção especial. Mas, com alguns cuidados, é possível garantir nove meses tranquilos enquanto aguarda a chegada dos seus bebês

Gêmeos crescem habituados a chamar atenção e a despertar curiosidade onde quer que passem. Quando são crianças idênticas, então, está garantido o sucesso com o público. Com a gravidez de mais de um bebê não é muito diferente. O interesse e as dúvidas, inclusive das mães e dos pais, parecem se multiplicar junto com o número de embriões. Eles compartilham tudo desde a barriga?



É preciso algum cuidado especial? De fato, esse tipo de gestação tem características particulares e exige um acompanhamento mais cauteloso. Justamente por isso, um bom pré-natal é fundamental para que a futura mãe possa curtir com segurança a espera dos bebês. Abaixo, confira respostas para algumas questões sobre a gravidez de gêmeos

Como acontece a concepção de gemelar?

De duas maneiras: pela duplicação de um mesmo embrião ou quando dois óvulos são fecundados cada um por um espermatozoide. No primeiro caso, chamado de univitelino ou monozigótico, os bebês são idênticos. Já com a fecundação de óvulos diferentes, é como se duas gestações ocorressem ao mesmo tempo. De qualquer forma, a chance de tirar um bilhete duplo premiado espontaneamente é pequena. “Ao redor de 1% para mulheres que têm casos na família”, informa Carlos Alberto Petta, coordenador dos laboratórios de reprodução humana do Hospital Sírio-Libanês (SP) e do Centro de Reprodução Humana de Campinas (SP). Para se ter ideia, são 22 partos de gêmeos para cada mil nascimentos – sendo que quatro deles são univitelinos.
Por que há tantos gêmeos hoje em dia?

Isso se deve ao aumento dos resultados positivos da fertilização in vitro (FIV). “Há 20 anos, as taxas de sucesso não chegavam nem a 20%, e hoje alcançam até 35%”, compara Mario Cavagna Neto, presidente da Sociedade Brasileira de Reprodução Humana. Como no procedimento costuma-se usar mais de um embrião, dependendo da idade da mulher, a probabilidade de uma gravidez múltipla é maior – uma em cada quatro. Segundo o médico, no entanto, a tendência é que se utilize apenas um embrião por tentativa. “É que o índice de complicações na gravidez gemelar é maior”, explica.

Com quantas semanas de gestação os gêmeos costumam nascer?

É muito comum eles nascerem antes de completar as 40 semanas. Não é regra, mas gêmeos costumam nascer por volta da 36ª e 37ª semana. Trigêmeos chegam entre a 30ª e a 34ª. E os quadrigêmeos podem vir ainda mais cedo, entre a 28ª e a 32ª semana.

É comum terem de ficar na UTI neonatal após o parto?

Nem sempre os bebês necessitam da terapia intensiva, principalmente se já completaram 34 semanas. “Geralmente, essa é uma indicação para melhorar a adaptação respiratória, para quando o recém-nascido apresenta algum desconforto ou se é um prematuro com menos de dois quilos”, esclarece Mário Martinez, coordenador da equipe de ginecologia e obstetrícia do Hospital e Maternidade São Luiz (SP).

Quais problemas são mais comuns durante os nove meses?

A partir do segundo semestre, algumas alterações naturais do organismo podem abrir as portas para problemas como diabetes gestacional e pré-eclâmpsia, a hipertensão arterial específica da gravidez. Essas complicações são duas a três vezes mais frequentes quando há mais de um bebê se desenvolvendo no útero. Não se sabe o mecanismo exato que causa a doença hipertensiva na gestação, mas o diabetes está associado a um hormônio produzido pela placenta, o lactogênio placentário. “Como há um volume maior de placenta na gestação gemelar, a produção é maior”, explica o obstetra Adolfo Liao, professor da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo.

Inchaço e cãimbras também são mais recorrentes. Por isso, indica-se a prática de exercícios e sessões de drenagem linfática, sempre com o aval médico, além de uma alimentação saudável que inclua fontes de potássio, como banana e abacate, e cálcio, encontrado no leite e seus derivados.

É possível ter parto normal de gêmeos?

Apesar de a cesárea ser mais frequente em casos de múltiplos, o parto normal também é possível. Para que ele aconteça, os bebês devem estar na posição correta, ou seja, com a cabeça para baixo, e a mãe não pode apresentar nenhuma patologia, como diabetes gestacional e pré-eclâmpsia. A diferença é que apenas um dos fetos fica encaixado. Quando ele sair, o outro também desce. E aí chega o momento em que nada é mais importante para a mãe do que ter os filhos saudáveis nos braços pela primeira vez. Os cuidados podem ser dobrados, mas a alegria também vem em dobro.

4 particularidades de quem está grávida de gêmeos

*Ao contrário do que dizem por aí, um traço bem marcado no teste de farmácia não é um indício de gravidez gemelar. O que pode, sim, anunciar que há gêmeos a caminho é uma dosagem muito alta do hormônio beta HCG, aquele medido no exame de sangue para confirmar que a mulher está grávida e que prepara o útero para o crescimento do feto no início da gestação. É ele também que está por trás dos enjoos, do mal-estar e da sonolência dessa fase. “Quanto maior a produção do hormônio, mais intenso é o mal-estar”, diz Mário Martinez. Isso explica por que os sintomas são mais acentuados em caso de múltiplos.

*Na gravidez de gêmeos, a variação média de ganho de peso pula de 7 a 12 quilos (gestação de um bebê) para 10 a 18.

*Nos últimos três meses, os desconfortos físicos aumentam por causa da sobrecarga dos sistemas respiratório e circulatório. Sem falar no peso e nas estrias, que podem aparecer em maior quantidade, de acordo com o tamanho da barriga. “Para se ter uma ideia, no final da gestação gemelar, o conteúdo do volume no útero chega a dez litros, enquanto na gravidez de feto único são cerca de seis”, comenta Liao.

*Mãe de gêmeos precisa fazer mais ultrassons, exames de sangue e de urina. A partir de 28 semanas, entra em cena a dopplerfluxometria, ultrassom que acompanha o fluxo sanguíneo dos bebês e certifica se o crescimento está adequado. Em geral, a preocupação gira em torno da prematuridade, que ocorre entre 50% e 60% dos partos, do diabetes e da pressão alta.


Fonte: revista Crescer

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