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Endometriose: como enfrentar o problema para engravidar

Entre as mulheres em idade reprodutiva que apresentam infertilidade, estima-se que 50% em média, tenham endometriose. Quanto antes for feito o diagnóstico, mais chances de o tratamento ser bem sucedido


Quando o endométrio – tecido que reveste o útero durante a ovulação e normalmente é eliminado na menstruação – cresce para fora da cavidade uterina e invade o peritônio, a membrana que envolve a face interna do abdômen, ele desencadeia uma inflamação chamada de endometriose. Com o tempo, os locais onde as células “grudaram” se inflamam e viram nódulos, que causam dor. Em geral, eles aderem aos ovários, mas podem atingir também o útero por fora, as trompas, o intestino, a bexiga e, em casos graves, os rins e até o pulmão.ele desencadeia uma inflamação chamada de endometriose. A doença atinge de 10% a 15% das mulheres em idade reprodutiva, segundo a Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo). Por comprometer o aparelho reprodutor, é a principal causa de infertilidade feminina. “O processo inflamatório dificulta a concepção porque provoca aderência entre os órgãos da pelve, complicando a passagem do óvulo pelas trompas, além de promover a liberação de substâncias tóxicas que danificam os óvulos e os espermatozoides”, esclarece o obstetra Frederico Corrêa, diretor e coordenador do Centro de Excelência em Endometriose (Brasília-DF).

Entre os principais sintomas da endometriose estão dores abdominais durante o período menstrual, dificuldade de engravidar e dor no fundo da vagina na relação sexual. Os incômodos podem ter uma intensidade de leve a incapacitante, quando a mulher não consegue realizar suas atividades corriqueiras, como trabalhar.

De acordo com os especialistas, apenas 5% dos casos são assintomáticos. Mas, mesmo que não passem despercebidos, os sinais são frequentemente negligenciados, o que dificulta e adia o diagnóstico. “Existe uma crença de que a cólica menstrual é um evento comum, natural, e que, portanto, não estaria relacionada a uma doença. Às vezes, os próprios profissionais de saúde subestimam esse indício, que é o principal sinal de alerta”, afirma Corrêa.

Outras manifestações possíveis são alterações no funcionamento do intestino durante a menstruação (ele fica excessivamente preso ou solto)ou dores pélvicas fora do período menstrual e em outras regiões afetadas pela doença – em caso de endometriose na bexiga, por exemplo, pode haver desconforto ao urinar.

Se você reconheceu os sintomas descritos e está tentando engravidar há mais de um ano, deve suspeitar de endometriose. Quanto mais cedo for diagnosticada e tratada, menor será o impacto na fertilidade. O primeiro passo é procurar um médico especializado no problema, já que os exames e cuidados para controlá-lo são bem específicos.

Um simples exame clínico, de toque vaginal, pode dar pistas da doença, mas a confirmação é feita por meio do ultrassom transvaginal com preparo do intestino. “A lavagem intestinal é importante para evitar que, na hora de analisar a imagem, as fezes se confundam com os focos de endometriose”, justifica a ginecologista Rosa Neme, diretora e proprietária do Centro de Endometriose de São Paulo. A ressonância magnética da pelve é um recurso extra para auxiliar no diagnóstico. Vale ressaltar que os radiologistas também devem ter especialização na doença, do contrário, as imagens podem ser mal interpretadas e o resultado, equivocado.

Não posso ser mãe?
Pesquisas científicas mostram que a gravidez pode ser natural em cerca de 40% a 60% dos casos de endometriose e nem sempre a probabilidade de gerar um filho está associada ao grau da inflamação. Isso quer dizer que a infertilidade pode acometer uma mulher com a forma leve da enfermidade e não, necessariamente, prejudicar outra que tenha uma manifestação severa.

Para quem enfrenta a dificuldade, uma boa saída pode ser a videolaparoscopia, uma cirurgia minimamente invasiva, que tem como objetivo limpar as regiões afetadas pelo endométrio expandido, com a retirada dos tecidos excedentes e aderências e realocação das trompas.

O procedimento cirúrgico passa a ser a melhor alternativa depois de um ano de tentativas frustradas para gerar um bebê. A orientação, nesse caso, é começar a tentar novamente logo após a intervenção, antes que os focos de endometriose ressurjam – o que não raro acontece por se tratar de uma doença crônica que só tende a regredir de vez com a chegada da menopausa.

Dependendo da localização do tecido intruso, a inseminação artificial – injeção de espermatozoide direto na cavidade uterina, para que possa fecundar o óvulo – pode ser uma boa saída, desde que as trompas e os ovários estejam funcionando normalmente.

Caso contrário, se houver grandes alterações anatômicas no aparelho reprodutivo, o jeito é apelar para a  fertilização in vitro – quando a fecundação é feita fora do organismo e o embrião pronto é implantado no útero da mãe.

O tratamento medicamentoso, com anticoncepcionais e hormônios, ajuda a conter o crescimento do endométrio, mas não funciona para quem quer engravidar, já que não é capaz de eliminar eventuais obstruções no sistema reprodutor.

Por se tratar de uma doença crônica, com manifestações recorrentes, o tratamento precisa ser multidisciplinar, muitas vezes, incluindo acompanhamento psicológico da paciente. “As dores interferem muito no dia a dia da mulher, não raro impedem que trabalhe e comprometem o relacionamento sexual. Tudo o que puder ajudar é bem-vindo, desde exercícios de relaxamento até uma dieta mais saudável”, acrescenta Rui Ferriani, presidente da Sociedade Brasileira de Endometriose. Isso porque uma dieta balanceada, completa em vitaminas e minerais, ajuda a conter o processo inflamatório.

Consegui engravidar. E agora?
Uma vez grávida, tudo tende a correr bem, embora alguns estudos sugiram risco aumentado de aborto em casos de endometriose. Por isso, os especialistas recomendam uma reposição hormonal no primeiro trimestre, com o intuito de aumentar a oferta de progesterona, hormônio fundamental para a manutenção da gravidez. Não há, porém, comprovação científica dessa associação. Passado os três meses críticos, não é preciso adotar nenhuma outra medida preventiva específica. A gestação tende a transcorrer normalmente, mesmo que a mulher ainda tenha focos da inflamação. “Em uma ocasião, descobri a doença em uma paciente só na hora da cesariana”, conta o obstetra Frederico Corrêa.

A verdade é que os próprios hormônios da gravidez atenuam os sintomas da endometriose. “A progesterona contém o crescimento do endométrio, mas é importante dizer que a doença não regride”, afirma Rosa Neme.


Fonte: http://revistacrescer.globo.com/

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