quinta-feira

Para seu filho comer direito, ordem nas refeições!

O cardápio faz toda a diferença no desenvolvimento das crianças. Mas só comida de qualidade não basta. Os hábitos alimentares são determinantes para evitar a obesidade infantil e outras doenças associadas. Confira dicas


Muitos afazeres, pouco tempo e as crianças a mil. Natural que falte disposição para colocar a mesa, preparar um jantar balanceado e ainda encontrar forças para tirar todo mundo da frente da TV e insistir que a família se reúna para a refeição. Mas um só argumento vai dar a energia necessária para você batalhar por bons hábitos alimentares em casa: eles são tão importantes quanto a escolha dos itens que se coloca no prato, quando o objetivo é afastar a obesidade infantil e todas as doenças graves que vêm na cola dela, como hipertensão, diabetes, colesterol alto e até mesmo problemas psicológicos decorrentes de bullying. E tem mais: com a rotina regrada, os itens saudáveis entram mais naturalmente na dieta da garotada. Confira a seguir as dicas de especialistas, mire-se no exemplo das famílias ouvidas e em suas histórias de sucesso, e faça o seu esforço valer a pena, em prol da saúde do seu filho.

Longe da televisão
Na ansiedade de fazer com que os filhos comam, muitos pais recorrem à TV como um facilitador. A tática pode até resolver o problema de imediato, mas traz consequências no futuro. “A criança entretida com a programação come qualquer coisa em qualquer quantidade, sem prestar atenção ao alimento, à mastigação e aos próprios sinais de saciedade”, explica a endocrinologista e pediatra Cristiane Kochi, da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia – Regional São Paulo. Como consequência, a temida obesidade passa a espreitar. Para o pediatra Marcelo Reibscheid, da UTI Neonatal do Hospital São Luiz (SP), as refeições vão além do aspecto nutricional. “Elas são sagradas. Devem ser momentos em que a família converse sobre assuntos variados: escola, amigos, problemas e dúvidas.”
É o que reforça uma pesquisa realizada com 34 mil crianças e adolescentes pelo Literacy Trust, uma instituição inglesa dedicada à alfabetização e incentivo à leitura. O estudo concluiu que conversar com os filhos durante as refeições torna-os mais confiantes. “Em minhas pesquisas, cheguei à conclusão de que os pequenos constroem o vocabulário durante o jantar em família. De cada 2 mil novas palavras, mil vêm de conversas nesse momento”, reitera a jornalista norte-americana Miriam Weistein, autora do livro The Surprising Power of Family Meals (O Poder Surpreendente das Refeições em Família, em tradução livre). Crianças que fazem refeições em família consomem mais frutas e vegetais, tomam menos refrigerantes e se alimentam melhor, mesmo quando estão fora de casa, porque têm a oportunidade de se mirar no exemplo dos pais e de prestar mais atenção ao que comem.

O publicitário Ricardo Fonseca, 41 anos, conhece bem a influência positiva desse hábito. Seu filho, João Ricardo, 4 anos, andava agressivo e desobediente. Por indicação do psiquiatra do menino, os pais buscaram uma terapeuta de casal que exigiu que João tivesse pelo menos uma refeição ao dia em família. “Nossa relação se fortaleceu e ele se acalmou na hora da comida, que era de completa agitação. O comportamento dele mudou totalmente.”
Se está claro que na hora da refeição a televisão e outros aparelhos devem ser proibidos, nos momentos de lazer é quase impossível manter as crianças longe das telas. Aí fica
praticamente impossível blindar seu filho das tentações apresentadas nas propagandas. “Estudos associam o hábito de assistir à TV a uma preferência pelos alimentos anunciados. A maioria dos industrializados é mais calórica, o que leva a ingestão energética exagerada”, alerta a nutricionista Patrícia Modesto, do Hospital Israelita Albert Einstein (SP). É fundamental que os pais acompanhem o que os filhos veem na televisão e na internet, aproveitando para explicar que itens industrializados não são saudáveis e, por isso, só estão
liberados em algumas situações.

Hora para comer

Parece mais do mesmo, mas a rotina tem papel fundamental no desenvolvimento das crianças e não seria diferente com os hábitos alimentares. É preciso estabelecer horários para as refeições, assim como é feito com o banho, a lição e outras atividades. Dessa forma, seu filho consegue se organizar internamente, fica mais tranquilo e come de forma adequada.

Claro que os horários das refeições podem sofrer pequenas alterações, de acordo com a idade das crianças e os hábitos da família. Mas, uma vez estabelecida, a rotina deve ser respeitada. “Se o seu filho não está com fome no almoço, por exemplo, não estimule a troca da refeição por alimentos de fácil ingestão, como sucos, bebidas lácteas ou achocolatados. Fique tranquilo. Na hora em que ele estiver com fome, vai querer comer a refeição preparada”, garante a nutricionista Patrícia. Ela aconselha a definir um cardápio balanceado para todas as refeições, assim como preparar o lanche escolar em casa, evitando que as crianças comprem frituras e afins na cantina da escola.

Aliás, é bem importante estabelecer quais alimentos podem ou não ser consumidos em casa e na rua, e quando. Durante a semana, o ideal é evitar frituras, doces e refrigerantes. E, de novo, uma vez estabelecidas as regras, não deve haver exceções. Se necessário, combine com os educadores do seu filho. Nos fins de semana, as guloseimas podem ser liberadas, mas com moderação, para não correr o risco de a criança querer compensar tudo que não comeu de segunda a sexta em dois dias.

Como exemplo de rotina alimentar para as crianças que já compartilham o cardápio com a família, a nutricionista infantil Maria Emília de Albuquerque, do Hospital Pequeno Príncipe (PR), sugere um café da manhã ao acordar, um pequeno lanche duas horas depois, almoço após mais duas horas, outro lanche no meio da tarde, jantar e, dependendo do horário em que for dormir, um lanche leve à noite – sempre procurando manter os mesmos horários.

Dieta para todos

De nada adianta caprichar no discurso e na rotina se os hábitos alimentares da família forem inadequados. Dizer que fazem mal, mas estocar – ou pior, comer em frente às crianças – bolachas, refrigerantes e outros produtos com calorias demais e nutrientes de menos é uma cilada. Essa foi uma das dicas que a empresária Daniela Torres, 35 anos, recebeu
quando buscou uma nutricionista para ajudá-la com a filha Gabriela, 3 anos, que estava com sobrepeso. “Ela me convenceu de que a dieta começa na compra de supermercado. Por isso, mudamos nossos hábitos. Agora, tudo em casa é integral e só tem água para beber. Nada de suco de caixinha, que tem muito açúcar. No fim, ficou todo mundo mais saudável”, conta Daniela, feliz da vida porque a filha perdeu um quilo em apenas 20 dias, o que é significativo para a idade dela.

Pais com hábitos alimentares saudáveis tendem a criar filhos com o mesmo perfil. Afinal, o melhor jeito de educar qualquer criança é pelo exemplo. Além disso, é preciso um pouco de esforço para estimular os pequenos a experimentar novos sabores e aprender a gostar de verduras e legumes. A aposentada Carmen Malzone Carbone, 65, enfrentou certa resistência dos netos, na época com 7 e 2 anos, quando passaram a se alimentar na casa dela. A solução foi instituir o “Dia de Experimentar”. “Funciona assim: uma vez por semana, é introduzido um item novo e há o compromisso de experimentá-lo. Discute-se, então, se as crianças gostaram ou não e por que, para poder alterar a receita e ajustá-la ao paladar. Hoje, tenho dois monstrinhos que devoram tudo. Na semana passada, inclusive, tivemos uma disputa acirrada pela pizza de brócolis”, diverte-se a avó.

Quanto antes a introdução dos alimentos saudáveis começar, melhor. “É na infância que formamos nosso hábito alimentar. Assim, os pais devem oferecer à criança a maior variedade possível. Quando houver recusa, espere alguns dias e volte a apresentar o alimento de outra forma. Nesse processo, além do exemplo, pesa a determinação dos pais”, destaca a nutricionista Patrícia Modesto.

De determinação a arquiteta Heloísa Fernandes, 39, entende. Desde que o filho, Bruno, hoje com 7 anos, começou a comer papinhas, ela as cozinhava diariamente, sempre com sabores diferentes, sem congelar ou bater no liquidificador. “Dá um trabalhão, mas vale muito a pena mais tarde. Hoje, o Bruno come legumes e verduras todos os dias. Pede para levar minicenouras de lanche para a escola”, conta, orgulhosa. E o menino ainda detesta refrigerante. Milagre? Não, esforço. “Sempre demos suco a ele, nunca deixamos dar bicadinhas em refrigerantes quando pequeno. Tem pais que colocam na mamadeira! Agora, grandinho, o gosto do refrigerante não agrada. Ele diz que pinica a boca”, comemora.


Fonte: revista Crescer

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