sexta-feira

Blogueira fala sobre a importância do bom humor na maternidade


Nessa entrevista exclusiva à CRESCER, a norteamericana Jen conta que ser mãe é uma tarefa de muita responsabilidade, mas, com humor, tudo fica mais leve

Marcela Bourroul

   DivulgaçãoEm abril de 2011, a norteamericana Jen criou um blog chamado People I want to Punch in the Throat (traduzido literalmente, Pessoas em quem eu quero dar um soco na garganta). Ela se considera uma pessoa engraçada, negativa e sacana, e essas características não mudaram quando Jen se tornou mãe. Seu blog conquistou milhares de leitoras nos Estados Unidos e, aos poucos, Jen começou a perceber que não era a única mãe bem humorada e sarcástica no pedaço. 


Depois de conhecer muitas mulheres divertidas por meio da internet, Jen começou a pensar que elas mereciam ganhar mais voz. Foi assim que nasceu a ideia de publicar um livro com vários textos de mães blogueiras. O nome não poderia ser mais espirituoso: I Just Want to Pee Alone (Eu só quero fazer xixi sozinha). O livro já está em quarto lugar na seção “Família” da loja virtual Amazon. Infelizmente, ainda não há tradução para o português. Quem tem facilidade para ler em inglês pode se deliciar com as 37 histórias engraçadíssimas. Para as mães e pais que preferem esperar a versão em português ou estão absolutamente sem tempo, CRESCER bateu um papo descontraído com Jen, para falar sobre maternidade, bom humor e todas as pedras que encontramos no caminho: 

CRESCER: Quando você decidiu escrever o livro? Você queria usá-lo para passar uma mensagem aos leitores? 
JEN: Fiquei pensando em organizar esse livro durante o verão (lá, o verão terminou em setembro do ano passado). Sabia que havia várias escritoras talentosas por aí buscando audiência, e eu tenho uma plataforma que poderia ajudá-las a divulgar o que pensam. Depois do sucesso do meu primeiro livro (“Spending the Holidays with People I Want to Punch in the Throat” ou “Passando as Férias com Pessoas que eu Gostaria de Socar na Garganta) eu sabia que esse livro poderia se tornar um sucesso. Pedi às blogueiras textos engraçados sobre ser mãe ou ser mulher. Quando eles começaram a chegar, pude ver um tema central surgindo, sobre como ser mãe e saber que você não está sozinha. Um tema sobre o qual eu escrevo muito no meu blog é ser honesta sobre os altos e baixos da maternidade e nunca tentar fazer com que ela pareça melhor do que é na realidade. O livro só reforça essa visão. 

C: Por que você acha tão importante os pais terem senso de humor e não levarem as coisas tão a sério? 
J.: Acredito que ter filhos é difícil e é uma tarefa de muita responsabilidade, mas não precisa ser tãããão séria. Há dias em que é melhor rir, senão você vai chorar. Acho que há muita pressão desnecessária colocada sobre os pais, especialmente sobre as mães, para serem perfeitas e fazer tudo certo senão vão estragar os filhos. Esse tipo de pensamento pode bagunçar a nossa cabeça. Claro, há muitos pais que fazem coisas erradas por aí, que abusam dos seus filhos e coisas assim, mas para a maioria tudo está indo bem e não deveríamos levar esse “trabalho” tão a sério. 

C: As crianças sentem quando os pais lidam de forma mais tranquila com as coisas? Isso faz diferença no humor delas? 
J.: Acredito muito que as crianças sentem o humor dos pais. Acredito nisso desde que meus filhos eram bebês. Se você está ansiosa, eles ficam ansiosos. Acho que conforme eles crescem eu preciso trabalhar com eles os sentimentos de se sentirem inadequados ou provocados. Aqui é outro ponto no qual o humor ajuda. Se você não pode rir de você mesmo, dói muito mais ver alguém rindo de você.

C: Para muitas mulheres, escrever um blog é como uma terapia. Você se sente assim? 
J.: Escrever meu blog é a minha melhor terapia. Me ajuda a desabafar e a tirar as coisas de dentro de mim. Escrever é um dos componentes da terapia. O outro é entrar em contato com sua “tribo”. Achar leitores e companheiras blogueiras que pensam como você e que querem ajudar você assim como querem ser ajudadas. É essa tribo que atualmente faz minha terapia gratuita. Recomendo a quem gosta de escrever que escreva, mas mais do que isso recomendaria a outras mães que achem sua turma, com a qual possam dividir experiências e se ajudar. 

C: Às vezes, as mães acham que não são boas o suficiente ou que são as únicas cometendo certos erros. Você acha que manter contato com outras mães, via Facebook por exemplo, pode ajudá-las a sentir menos culpa? 
J.: Acho que o Facebook pode ser um lugar viciante para uma mãe que se sente inadequada. Há tantas mulheres postando imagens de refeições deliciosas e saudáveis que prepararam para a família, lindos desenhos feitos para os filhos, férias incríveis que tiraram… Eu simplesmente não acredito em todas elas. Acho que é legal às vezes, mas também é preciso olhar aquelas pessoas que mostram a poeira embaixo do sofá, o artesanato que deu errado e coisas assim, senão a mãe só se sente pior. De novo, é preciso encontrar uma tribo. Há mães de verdade pelo mundo, mas é mais difícil encontrá-las. Elas geralmente não aparecem em sites ou no Pinterest. 

C: Um conselho de amiga ou mãe é melhor que um conselho de médico? 
J.: Acho que depende do conselho que você está procurando. As mães precisam confiar em seus instintos. Se ela acha que precisa consultar um médico, ela deve marcar uma consulta. Dito isso, mães são sempre cheias de informação. É sempre bom falar com elas também. 

C: Você pode nos contar sobre uma situação em que se sentiu muito mal e como a superou? 
J.: O nascimento do meu primeiro filho foi muito difícil. Ele nasceu prematuro e não conseguia comer. Eu queria muito amamentá-lo, mas ele não sugava adequadamente e precisava ser alimentado por um tubo. Quando ele finalmente ficou grande o suficiente para mamar, ele não tinha interesse algum nisso. Eu não conseguia fazê-lo pegar meu peito corretamente e estava à beira de um ataque de nervos. Estava preocupada que ele não comesse o suficiente e não crescesse. Amamentava-o a cada hora e cada mamada levava meia hora. Me sentia presa e sozinha, porque não podia sair de casa. Estava deprimida e muito solitária. Queria parar de amamentar, porque sentia que isso era a causa dos meus problemas e seria muito mais fácil se eu parasse. Porém, tinha medo de desistir. Não por causa do meu bebê, mas porque eu não queria que as pessoas me julgassem. Morria de medo de contar ao meu pediatra e meus amigos. Isso não é horrível? Finalmente, confessei o que estava sentindo ao meu marido e ele disse que eu deveria parar. Disse que eu estava me estressando, estressando nosso filho, ele e qualquer pessoa próxima de nós. Disse que eu deveria estar curtindo o bebê e não me preocupando com o que as pessoas iam achar. Ele foi comigo ao pediatra e disse ao médico que começaríamos a dar fórmula ao nosso filho, perguntando apenas qual marca ele recomendava. Meu marido tirou um peso enorme de mim e ele estava certo. Instantaneamente, me tornei uma mãe melhor. Acho que cada um tem que decidir o que é melhor para si e para sua família, e não se preocupar com o que os outros vão pensar. 

C: É importante para os pais tirarem uma folga dos filhos de vez em quando? 
J.: Acho que é importante que os pais tenham um tempo sozinhos e que também tenham um tempo de casal. Eu preciso recarregar as baterias com minhas amigas, mas também preciso ficar com meu marido. 

C: Você pode dar 3 dicas para mães que se sentem muito estressadas ou culpadas? 
J.: Ria, ria, ria. Ache uma comunidade, seja ela real ou online. Ache um grupo de mães no qual vocês possam compartilhar e ajudar umas às outras. Respire fundo e saiba que isso vai passar. 

C: Muitos jovens casais não pensam em ter filhos. Mesmo que as crianças deixem os pais loucos de vez em quando, no fim do dia, vale a pena? 
J.: Eu, pessoalmente, amo ser mãe. Sempre quis ser mãe. Há dias que são mais difíceis do que eu imaginei, mas os dias bons superam de longe os ruins. Amo meus filhos e não consigo imaginar minha vida sem eles. Para mim, vale a pena. No entanto, conheço pessoas que não querem e acho que elas estão certas. Se pai ou mãe é uma experiência maravilhosa, mas não é para todo mundo e se sua intuição diz “crianças não”, ouça. 

Fonte: revista Crescer

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