sexta-feira

Maternidade idealizada


Os tempos mudaram e só começamos a reparar nas crianças quando o relógio biológico toca. E quando os filhos, finalmente, chegam bate uma sensação estranha... Calma, isso é normal!

Carolina Ambrogini



Antigamente, as mulheres sabiam desde pequenas qual era o seu destino: casar e ter filhos. Algumas poucas e corajosas se arriscavam em sonhos mais ousados, mas a maternidade era quase certa, já que os métodos contraceptivos mostravam-se ineficazes. 

Desde mocinhas, se envolviam no mundo dos bordados para o almejado enxoval e já eram habituadas ao mundo dos filhos. Enquanto não tinham os seus, ajudavam a cuidar da penca de sobrinhos e até dos próprios irmãos. 

Vieram os tempos modernos e, hoje, mulher é igual a homem. Não poderíamos deixar para trás tantas e importantes conquistas. Em vez dos bordados, passamos a juventude estudando e entramos no mercado de trabalho para valer. Não temos muito tempo para prestar atenção em criança, não! É MBA, é ralar para a promoção, é estágio no exterior, pós-graduação e tudo o mais que quisermos. Agora podemos! 

Só começamos a reparar nas crianças quando o relógio biológico toca. Mas de um jeito romanceado, já que elas são peças fundamentais para o comercial de margarina que idealizamos para o futuro. Porque, sim, continuamos românticas! Isso a modernidade não conseguiu apagar. 

Vemos as crianças como doces criaturas fofinhas e sorridentes que de vez em quando choram. Além das roupinhas lindas, imaginamos a educação perfeita que iremos dar. Jantar em frente à televisão? Jamais! Birra no shopping? Coisa de mãe relapsa! 

Quando chega a notícia da gravidez é aquela loucura. Um misto de euforia, que nos leva enlouquecidas às lojas de enxoval, e medo, que nos faz devorar livros e manuais para tentar entender algo que não temos muita noção: a criança. 

Após algum tempo com um bebê em casa, chegamos finalmente à realidade: os filhos desabrocham mesmo aquele amor incondicional que todos falam, mas dão um trabalho... 

Muitas mulheres se veem com uma sensação de inadequação. Afinal, eram tão independentes e agora têm que girar seu mundo ao redor da criança. De repente, percebem que vão ter menos tempo para o lazer pessoal, que aquela promoção no trabalho vai ter que esperar, que o filho vai vir sempre em primeiro lugar e a lista não tem fim. 

Para você, nova mãe que está um tanto desnorteada, digo o seguinte: 

Essa sensação estranha é normal. Afinal, sua vida mudou 180 graus. Respire, tenha calma. 

Os desafios na criação dos filhos vão sempre existir. Acostume-se com eles, não se prenda a padrões, siga seu coração. 

Aos poucos, sua nova rotina vai dar a você segurança e os seus projetos profissionais e pessoais entrarão em foco novamente. 

Compartilhe a responsabilidade, você não tem que dar conta de tudo sozinha. 

A maternidade não é cor-de-rosa, ela passa pelas mais variadas cores, quase sempre as mais intensas, fluorescentes, às vezes negras, mas tem nuances tão exóticas e belas que seus olhos nunca se cansarão de olhar. E não xingue as feministas! A vida, com certeza, está mais complexa, mas você dá conta, viu? 


Carolina Ambrogini, mãe de Marina, 5 anos, e Victor, 3, é ginecologista, obstetra e sexóloga. Coordena o Projeto Afrodite, da Universidade Federal de São Paulo. Aqui, ela dá dicas de saúde e relacionamento para a mulher que tem filhos. CRM: 102706  

Fonte: revista Crescer

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