sexta-feira

Crianças de 3 anos já são experts na web, mostra pesquisa


Cada vez mais cedo, elas aprendem a movimentar os dedos ágeis pela tela do tablet. Mas será que isso faz mal?

Naíma Saleh



Não se surpreenda se o seu filho pequeno descobrir um novo aplicativo no seu iPad ou ultrapassar (de loooonge) o seu recorde no Angry Birds do celular - mesmo que ele ainda não saiba ler ou escrever. Uma pesquisa do OfCom, órgão regulador da indústria de comunicação no Reino Unido, realizada com 200 famílias com filhos entre 3 e 4 anos, revelou que metade das crianças nessa faixa etária já são boas conhecedoras de tecnologia. Não é à toa que 1 em cada 10 já utiliza tablets para jogar, visitar websites e assistir a filmes e programas de televisão, como revelou o estudo. 

No Facebook da CRESCER, uma enquete, que teve a participação de 148 fãs, mostrou resultado próximo ao da pesquisa. Ao perguntarmos sobre a idade em que os filhos começaram a navegar na internet para jogar, cerca de 43% respondeu que foi aos 3 anos! 

E não adianta dizer que essas crianças são precoces demais e que com essa idade você brincava de boneca ou empurrava carrinhos: essa geração high-tech é, antes de tudo, um reflexo do comportamento dos próprios pais. “As crianças nessa faixa etária são filhas de pais muito plugados, que usam a tecnologia tanto por prazer quanto para o trabalho. Como elas aprendem por imitação, é natural que tenham facilidade para desenvolver essa capacidade de lidar com o mundo digital”, explica Quézia Bombonatto, presidente da Associação Brasileira de Psicopedagogia (SP). 

Vale lembrar também que o tablet e demais tecnologias touch ocupam agora uma posição que, antigamente, pertencia à televisão. Desde tempos atrás, as crianças pequenas já eram capazes de ligar e desligar a TV ou mesmo de usar o controle remoto para mudar os canais e ajustar o volume. Hoje, é como se as crianças tivessem trocado de objeto de curiosidade. Isso se deve principalmente ao fato de que, com o recurso touch, basta deslizar os dedos pela tela para utilizar jogos e aplicativos. Dessa forma, os pequenos podem acessar conteúdos digitais mesmo antes de serem alfabetizados. 

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No entanto, mesmo que as crianças menores consigam manipular aparelhos supermodernos, isso não quer dizer que elas já sejam capazes de atribuir significado a eles. Isso porque, do ponto de vista neurocognitivo, é só por volta dos 5 ou 6 anos que elas irão entender a lógica do aparelho, perceber qual é o seu fim e por que motivo precisam realizar determinadas ações. Até então, elas aprendem basicamente por ação e reação. Ou seja, seu filho pequeno percebe que o personagem se move quando ele toca na tela do tablet mas, a princípio, não entende que esse recurso é necessário para atingir o objetivo do jogo e apenas se diverte com o movimento em si. 

Um dos motivos que torna o mundo virtual tão atraente aos pequenos é justamente a interatividade que oferece. Ao tocar na tela, as cores mudam, novas formas surgem, o aparelho faz barulho e, dessa forma, a criança observa instantaneamente as consequências de suas ações. Só que, ao mesmo tempo em que esse atributo prende a atenção dos pequenos, mais para frente ele pode também gerar muita frustração. “O modelo desses jogos virtuais é muito atraente por oferecer sucesso instantâneo: se você continuar jogando, vai passar de fase. Mas, a longo prazo, deixa as crianças muito ansiosas em obter resultados imediatos”, alerta Bombonatto. E sabemos que na vida as coisas não funcionam bem assim. Por isso, é preciso equilíbrio na hora de deixar seu filho se divertir com os gadgets e oferecer outras opções para ele. 

Durante uma brincadeira com blocos de montar, por exemplo, a criança precisa de um grande esforço de elaboração e persistência para equilibrar as peças até que elas se encaixem e cheguem a uma altura razoável. O resultado, não tão imediato quanto um toque no tablet, faz com que seu filho fique orgulhoso de sua obra e tente empilhar os blocos em construções cada vez mais altas, o que desenvolve a perseverança. Sem contar que é nessa hora que a criança exercita a sua criatividade, já que aqueles blocos empilhados viram um castelo enorme ameaçado por um terrível dragão que virá derrubá-lo. 

De bem com a tecnologia 

Ainda assim, é inegável o potencial das novas tecnologias para estimularem o aprendizado das crianças, o que se deve à capacidade de despertar a curiosidade infantil. O filho de Luciana Ruffo, membro do Núcleo de Pesquisas de Psicologia em Informática da PUC – São Paulo, aprendeu com menos de 2 anos a identificar cores e formas por meio de jogos no iPad. Porém, mesmo com o aprendizado do filho, ela ressalta: “Qualquer jogo sozinho, seja real ou virtual, é apenas entretenimento. Para que exista uma função educativa, é necessário o acompanhamento de um adulto”. 

Por isso, mesmo que o seu filho esteja quietinho brincando no computador ou com o tablet, a sua presença é essencial. “O papel do pai está sendo delegado para o tablet, que funciona como se fosse uma babá de luxo: enquanto a criança está entretida com o aparelho eletrônico, ela está quieta, concentrada e não dá trabalho”, alerta Bombonatto. É nesse ponto que vale uma reflexão para se pensar na maneira como essa tecnologia deve ser tratada no dia a dia. Afinal, o papel dos pais na educação não é algo transferível e aparelho nenhum pode substituir a interação entre você e o seu filho. 

Abaixo, confira dicas para que a família toda esteja de bem com a tecnologia 

- Limite o tempo que o seu filho passa no computador, celular ou tablets. Segundo a Sociedade Brasileira de Pediatria, o tempo máximo por dia em frente a telas é de 2 horas. 

- Não deixe que a estadia no mundo virtual atrapalhe a rotina da criança: não dá para comer com o iPad na frente, ou não querer ir tomar banho porque prefere jogar. 

- Na hora de dizer para o seu filho que o tempo com o computador acabou, proponha uma nova atividade. Pode ser levá-lo para a cozinha e ajudar você no jantar, dar uma volta com o cachorro no quarteirão ou até dançar no meio da sala. 

- É importante que os pais tenham o controle do conteúdo que a criança está acessando online. Não tenha medo de estar “invadindo a privacidade” dos filhos. É fundamental – e seguro – que você saiba o que as crianças estão vendo ou jogando na web. 

- A participação dos pais é insubstituível – tanto nas atividades reais como nas virtuais. Por isso, procure jogos com os quais você pode brincar junto com a criança, como o Draw Something Free, em que uma pessoa desenha um objeto na tela e a outra tem que adivinhar o que é. Seu filho – e você – vai amar!

Fonte: revista Crescer

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