quarta-feira

Robin Lim, uma parteira que vive todos os dias de sua vida por amor

Por sua clínica em Bali, a americana ganhou o prêmio Herói do Ano na CNN Carolina Bergier

A parteira Robin Lim


Um mar de mulheres balinesas no vilarejo de Nyuh Kuning, em Bali, se reuniu para recebê-la. Afinal, ela deixara de ser somente uma heroína local. Havia ganhado o mundo a partir de sua vida oferecida a partos humanizados em uma humilde clínica. A americana Robin Lim foi do chão de terra batida ao tapete vermelho do prêmio CNN Herói do Ano 2011. E de lá voltou diretamente à clínica sem passar em casa, recusando gentilmente a oferta de alguns dias de descanso. “Eu estou com saudade dos meus bebês. Tem alguém em trabalho de parto?”, perguntou assim que chegou de uma viagem de 21 horas. 


Robin Lim, mais conhecida como Ibu (mãe) Robin, mudou-se para o interior de Bali há 22 anos, após a morte de sua irmã por causa de complicações no parto. Decidiu então sair dos Estados Unidos e, segundo ela, “viver todos os dias de sua vida somente por amor”. Foi numa ilha na Indonésia, país onde a renda familiar diária é em média US$8, que ela entendeu seu propósito. “Aqui, meditando, percebi que precisava iniciar um trabalho com essas mães”, lembra Robin. 


Lá, os índices de mortalidade infantil e materno figuram entre os maiores do mundo. Um em cada 440 bebês não sobrevive. Contudo, não participam dessa estatística crianças que morrem antes de um mês de vida, devido à normalidade desse acontecimento. E ainda, se os pais não têm dinheiro para pagar o nascimento de seu filho, que custa entre US$70 (parto normal) e US$700 (cesariana), as crianças ficam retidas na maternidade até que se traga a quantia necessária. 


Saindo de uma relação traumática com um parto mal encaminhado e entrando num país cuja saúde da gestante e do bebê é praticamente irrelevante, Robin criou a Fundação Bumi Sehat: uma instituição sem fins lucrativos que reúne parteiras, médicos e voluntários em terapias alternativas e faz acompanhamento gratuito de pré-natal (alimentação, ioga, massagem, acupuntura), parto normal (sempre que possível) e pós-parto, além de outros tratamentos. O método utilizado é o Gentle Birth (Parto Gentil, semelhante ao que chamamos de Parto Humanizado no Brasil), cuja máxima é: “Todo parto é um processo natural e amoroso e como lidamos com ele reflete como lidamos com o planeta.” 


Robin Lim com as mulheres do vilarejo de Nyuh Kuning, em Bali
Robin acredita que uma vida não violenta começa na concepção, passando pela gestação, parto e pós-parto. “Uma criança gerada e parida com amor fará diferença num mundo mais amoroso. Estamos construindo a paz, um bebê de cada vez.” Intervenções médicas são bem-vindas quando preciso, dentro dos princípios do Gentle Birth: contato imediato do bebê com sua mãe após o nascimento, corte do cordão umbilical apenas 3 horas ou mais após o parto – para que não haja interrupção abrupta da conexão corporal entre mãe e bebê, além de aproveitar os nutrientes existentes no cordão -, respeitar o tempo do parto e as vontades da mãe. 

A Fundação tem duas clínicas na Indonésia. A principal delas é em Nyuh Kuning, uma humilde casa com orquídeas no jardim, uma sala de parto com banheira (que a cada nascimento é decorada com flores), uma de pré e pós-parto, uma de exames e outra para a equipe, além de um espaço – pequeno e sempre lotado – para práticas de ioga. Em 2011, 600 bebês nasceram nesse espaço pequeno, mas muito bem cuidado. 

Um desavisado que veja Robin com sua camiseta manchada, calça de pijama, tamancos e cabelos negros que batem nos quadris abraçando mães e beijando filhos não imagina que, em dezembro de 2011, ela tenha atravessado o tapete vermelho em Los Angeles. Dez heróis de todo o mundo concorriam a US$ 300 mil, que, em Nyuh Kuning, seriam utilizados na construção de uma nova clínica, com mais espaço, parquinho e horta orgânica. 

O vilarejo se reuniu em torno dos menos de dez televisores disponíveis para acompanhar a premiação. Robin e seu marido vestiam trajes de mesma estampa, feitos com um tecido típico balinês por uma costureira local. Na hora do anúncio do ganhador, o silêncio precedeu o choro conjunto. Depois das lágrimas dos soluços, o silêncio novamente. Era hora de ouvir seu discurso de agradecimento. Com a voz suave e trêmula, Ibu Robin pediu que todos apoiassem a comunidade mundial de doulas e parteiras para salvar a vida de mães e bebês. “Juntos, podemos salvar vidas”, sussurrou no microfone. As lágrimas não estavam só em seus olhos, mas também nos de todos que a assistiam em seu vilarejo. 

A mulher que colaborou para nascimento e vida de tantos se tornou parte da família de muitos. “Robin não só possibilitou um parto lindo para meus filhos. Com ela pude sentir o poder que tenho por ser mulher. Se posso dar à luz meu filho sem intervenção alguma e sentir tanta dor e alegria ao mesmo tempo, posso fazer qualquer coisa. Pedi demissão e abri meu próprio negócio”, conta Nyoman, 32, orgulhosa de conhecer e ter sua vida tocada por uma heroína internacional.

Fonte: Revista Crescer

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