quinta-feira

Meta na fertilização in vitro é transferir cada vez menos embriões


Cientistas canadenses reforçam os riscos de gestações gemelares e abrem a discussão sobre a transferência de apenas um único embrião para o útero da mulher

Quem resiste diante de um carrinho de bebê circulando com gêmeos ou trigêmeos? Cena cada vez mais comum nos dias de hoje, devido a técnicas de reprodução assistida, é também um motivo de preocupação da comunidade médica, por conta das complicações que as gestações gemelares trazem para mãe e filho. Uma análise recente, realizada por pesquisadores da Universidade de Montreal (Canadá), mostrou que limitar o número de embriões transferidos durante a fertilização in vitro (FIV) poderia prevenir 40 mortes de recém-nascidos a cada ano naquele país. Em 2005, no Canadá, 29% das gestações por FIV foram de gêmeos e 1% trigêmeos, de acordo com a pesquisa. Ainda segundo os cientistas, se no procedimento fosse transferido apenas um único embrião, haveria apenas três pares de gêmeos a cada 100 nascimentos, e nenhum trigêmeo. Mas é nesse ponto que a prática, adotada no primeiro procedimento da mulher em países como Bélgica (onde o governo paga o tratamento), ganha discussão. Ao transferir menos embriões, reduz-se o risco de gestação gemelar (uma vez que todos podem resultar em gravidez), porém também diminui a chance de a mulher engravidar. Isso pode ser um problema principalmente se a mulher já tiver idade avançada, já que ela tem menos tempo para novas tentativas e os óvulos são considerados menos saudáveis. “Ainda assim, nada é garantido, porque o útero pode não estar bom. E não há hoje um marcador eficiente para analisar o útero”, diz Emerson Barchi Cordts, ginecologista e especialista em reprodução humana do Hospital São Luiz (SP). Outra questão é o valor. Cada tentativa pode custar em torno de R$ 15 mil. Como há casais que só têm dinheiro para fazer isso uma única vez, muitos médicos se sentem pressionados para transferir até três embriões. O que muitas famílias não sabem, no entanto, é que embora seja lindo ter gêmeos, os riscos de uma gravidez gemelar são enormes. No Brasil, este ano, entre as novas normas de reprodução assistida aprovada pelo Conselho Federal de Medicina (CFM) está a quantidade de embriões que podem ser transferidos, determinado por idade. Ou seja, até 35 anos, dois; entre 36 e 39, três; e 40 anos ou mais, quatro. “Hoje, somos campeões em gestações gemelares, mas tudo indica que esse quadro vai mudar. O médico tem que respeitar essa diretriz”, diz Emerson. Enquanto na concepção natural o risco de engravidar de gêmeos fica em torno de 1% na FIV essa possibilidade passa para 25%. O perigo maior está nas gestações de trigêmeos. O índice de prematuridade desses bebês é enorme (mais de 60%), e muitos podem ter problemas de retardo de desenvolvimento neuropsicomotor, precisando de cuidados especializados durante a vida. O pré-natal também é mais complicado, uma vez que aumenta a chance de a mulher ter problemas cardíacos, de hipertensão e diabetes gestacional. Segundo Emerson, ainda não existe hoje uma técnica que assegure qual embrião tem 100% de chance de sucesso de gravidez, mas há procedimentos que ajudam. Um deles, explica, utilizado em algumas clínicas, é aguardar mais tempo para transferir o embrião para no útero. Em geral, isso é feito três dias depois da fertilização do óvulo, porém, nessa época, todos parecem bons. Esperando dois dias mais, acontece uma seleção natural, em que alguns podem parar de se desenvolver. Então são menos a serem escolhidos. “O ideal hoje é tentar usar o máximo da metodologia do laboratório para estudar a qualidade do embrião, escolher melhor e transferir em menor número”, reforça.

Fonte: Revista Crescer

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